MUDANÇA
29 de abril de 1985 foi meu último dia de trabalho no IPD/CTEx em Guaratiba. Era uma segunda-feira e foi uma despedida melancólica. Ao descer do ônibus que transportava o pessoal do CTEx pela via Grajaú-Jacarepaguá, eu levava nas mãos uma sacola de couro com meus últimos pertences e uma sensação estranha de deixar para trás algo que já estava me fazendo mal havia algum tempo. Eu gostaria muito que tivesse dado certo mas eu tinha visto o suficiente para saber que não daria.
Eu ganhava muito pouco. Era obrigado a dar aulas à noite na
Universidade Gama Filho, para poder sustentar minha família (meu primeiro filho
estava com 2 anos). Tinha que viajar,
todos os dias, 3 horas (ida e volta) através de estradas sinuosas que estavam
prejudicando minha saúde. E,
principalmente,embora eu gostasse do que fazia, não via nenhuma perspectiva para
aquilo. Na verdade, parecia um tipo de
terapia ocupacional.
Não sei como aguentei tanto
tempo. Acho que foi na expectativa de
que ainda poderia, de alguma forma, continuar trabalhando naquela área e
contribuir com o país. Até que a oportunidade
apareceu.
No ano anterior, havíamos recebido a visita
do Major Chaves (hoje Brigadeiro aposentado) do IAE (na época Instituto de
Atividade Espaciais). Tratei de pegar o
contato dele e lhe escrevi uma carta (hoje seria um zap) dizendo do meu
interesse pela área espacial e da minha disposição em mudar para São José dos
Campos.
Em dezembro de 1984 fui visitar
o IAE para uma entrevista. Viajei de
ônibus à noite para chegar em São José pela manhã bem cedo. O ônibus foi assaltado na baixada fluminense
(com direito a tiro e agressões aos passageiros). Se eu fosse supersticioso diria que era para
não ir pra lá. Mas eu estava muito
determinado e aquele episódio não me abalou em nada. A entrevista foi um sucesso e o Major Chaves
me alertou que eles também estavam com salários baixos mas que, em breve,
sairia uma nova tabela salarial. Quando
então ele entraria em contato.
Foram 4 longos meses esperando
a ligação do Major Chaves. Enquanto isso
eu já havia feito entrevistas com outras empresas e estava quase fechando com
uma empresa chamada Hidrologia (acho que não existe mais).
Meu primeiro dia de trabalho
no IAE foi em 6 maio de 1985. A alegria
era imensa e gastei aquela semana conhecendo as pessoas e o trabalho que era
feito, além de fazer os exames médicos
admissionais.
Um mês depois trouxe minha mudança
com esposa e filho e aconteceu um momento bem especial. Nós havíamos carregado o caminhão com a mudança
e ele partiu. Fomos almoçar, nos
despedimos dos parentes e partimos.
Encontramos com o caminhão de mudança na subida da serra das araras e buzinei
para ele. Expressei em voz alta: ali vai
toda nossa vida - que será que o futuro nos reserva ? Sim eu havia deixado tudo para trás em prol
de um ideal. Eu queria trabalhar no
programa espacial.
Apesar dos muitos problemas que
tive que enfrentar nos 30 anos seguintes, não me arrependo nenhum pouco. Foi a decisão mais acertada da minha
vida. Minha vida mudou para muito melhor
em todos os sentidos. Minha carreira
decolou. Conheci o mundo. Visitei lugares que eu apenas ouvia
falar. A qualidade de vida que tenho
hoje é de primeiro mundo.
Decisões de mudança são sempre
difíceis pois só conhecemos o que se passou e não o que está por vir. A boa decisão é aquela que é embasada por
critérios sólidos e fundamentais – que não mudam com o tempo. São aqueles critérios que consideramos
inegociáveis. É preciso também coragem
pois, sem ela, seremos eternamente militantes imaginários.
Gosto da ilustração: 5 sapos
em um tronco, 3 decidiram pular, quantos ficaram no tronco ? 5. Eles
só decidiram mas não pularam.
Eu decidi e pulei.
“Saiba que são suas decisões, e não suas condições, que
determinam seu destino.” Tony
Robbins
Se mudar algumas palavras/nomes, se tornará a história por traz da vida de muitos outros engenheiros brasileiros que decidiram trabalhar com pesquisa.
ResponderExcluirEsta realidade difícil, ao menos, permite destacar de longe quem faz aquilo por paixão.
Sempre bom ouvir esses relatos...
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