Postagens

Mostrando postagens de julho, 2023

HOMEM DE CONFIANÇA

Em meados da década de 90, apareceu no IAE um oficial engenheiro reformado chamado Cáspio (nome fictício).   Ouvi dizer que ele era um bolsista mas nunca fiquei sabendo a origem nem o objetivo dessa tal bolsa.   Ele foi designado para a divisão de eletrônica e seu próprio chefe, o engenheiro Lobo (vide post Meu Herói), comentou comigo que não sabia o que fazer com ele, pois Cáspio não cumpria as orientações e ordens que recebia.   Era do tipo que fazia o que bem entendia. Em outubro de 1997, eu estava em Alcântara e o VLS já estava pronto para ser lançado.   Estávamos fazendo as checagens finais para dar início à contagem regressiva.   Foi quando um competente especialista em informática chamado Martinho (nome fictício), que havia feito um software que monitorava todos os programas do computador de bordo, detectou algo estranho. É preciso entender que, naquela época, a tecnologia do computador de bordo só permitia que se gravasse em sua memória 5 vezes.   Além disso, o programa só

ENIGMA

Em 02 de novembro de 1997 tivemos o primeiro voo do VLS.   Infelizmente, tivemos uma falha na ignição de um dos motores do primeiro estágio e o veículo não pode prosseguir seu voo tendo sido comandada sua tele destruição em torno de 40 segundos após o litt-off. Basta observar os vídeos do lançamento (disponíveis na internet) para perceber que o veículo voa meio tortinho.   Pode parecer algo muito ruim.   Entretanto, do ponto de vista técnico foi uma realização impressionante.   Isso porque o veículo, sendo aerodinamicamente instável, não voa sem estar controlado.   Além disso havia um dos motores apagado, modificando completamente a dinâmica do voo.   Ou seja, se já era complicado controlar o voo normal imagine um voo totalmente anômalo. A minha sensação logo após o lançamento, obviamente, foi de frustração.   Entretanto, logo que retornei ao IAE, já no primeiro dia, encontrei-me na escadaria do meu prédio com o então chefe da divisão de mecânica.   Embora eu o conhecesse de vista,

COMO NOSSOS CHEFES

  Em meados de 1982, eu estava almoçando no restaurante dos oficiais do antigo IPD que ficava no forte São João, Urca.   Na mesa, eu estava cercado de oficiais que discutiam (e criticavam) os problemas do país e, principalmente, as atitudes dos seus comandantes.   Parecia que todos entendiam perfeitamente qual deveria ser o encaminhamento dos problemas ou qual a atitude que seus superiores deveriam tomar.   Eu permanecia quieto comendo.   Afinal, era uma mero recém-formado (menos de 4 anos), o que poderia dizer ? Até que um deles, um major meu ex-professor do IME, querendo a minha participação, disse: então Waldemar, o que você tem a dizer sobre tudo isso ? Fui pego de surpresa e, estranhamente, é nessas horas que tenho meus melhores momentos.  Eu respondi: “o que eu tenho sempre visto é que as pessoas que fazem críticas, quando chegam no cargo em que estão criticando, fazem a mesma coisa.”  Houve um silêncio constrangedor após isso até que o mesmo oficial falou: “Waldemar não crit

HOBBY REMUNERADO

  Em meados da década de 90, eu já dava aulas na pós-graduação sobre controle adaptativo (assunto do meu doutoramento), orientava teses e publicava trabalhos.  Em um belo dia recebi um telefonema de alguém interessado no assunto. A pessoa se identificou como Limoeiro (nome fictício).  Disse-me que ficou sabendo que eu estava nucleando um grupo de estudos na área de controle adaptativo e tinha muito interesse no assunto.  Até aquele momento achei que seria algum aluno interessado em orientação (muito comum de acontecer). Então, Limoeiro começou a dar mais detalhes de suas pretensões.  Disse que acabara de se aposentar como professor de uma universidade federal UF** e que estava em busca de um lugar que pudesse lhe pagar para estudar controle adaptativo. Achei aquilo um tanto estranho e perguntei a ele qual era sua especialização e quais as matérias que ele lecionava.  Para minha surpresa, ele era engenheiro mecânico e não entendia nada do assunto que se propunha desenvolver.  Perguntei,