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Mostrando postagens de março, 2021

ÚLTIMA VERSÃO

  Em 1980, enquanto fazia as cadeiras do mestrado no IME, era comum encontrar professores e alunos portando debaixo do braço caixas com cartões perfurados – era assim que se fazia programação em computador naquela época.   Era um tipo de status intelectual portar uma caixa daquelas, mesmo que os cartões estivessem em branco. Mais problemático do que carregar as caixas de cartões era organizar os resultados advindos dos programas.   Vinham todos em forma de uma grande pilha de papel contínuo (normalmente de 132 colunas) com praticamente 40cm de largura por 28cm de altura.   Cada rodada do programa, produzia uma pilha dessas, que costumávamos chamar de “listagem”.   Portanto, era comum ver em cima das mesas essas pilhas de “listagens”. Num certo dia, ao visitar a sala de um colega de mestrado, vi a tal pilha em cima de sua mesa e uma coisa me chamou a atenção.   Ele havia escrito, com caneta, em letras grandes, na listagem que estava por cima: última versão .   A curiosidade me moveu

Férias Forçadas

Esse episódio veio do leitor deste blog, que se identifica como “um pesquisador brasileiro”.   A história é completamente semelhante às vividas por mim.  I ncentivo aos leitores que quiserem contribuir que mandem os seus “causos”. A Universidade Pública Republicana dos Pinheirais (UPRP), sempre foi uma instituição média.   Não se destacava em muitas coisas, fosse para o mal ou para o bem.   Como universidade mediana, a maioria dos seus servidores também tendiam a ter comportamentos medianos.   Não eram totalmente incompetentes, mas não se destacavam.   O trabalho normalmente era feito de forma burocrática e sem grande eficiência.   Mesmo assim, a UPRP era uma instituição organizada e gozava de muitos “luxos” que outras universidades maiores não tinham, como papel higiênico nos banheiros e computadores renovados com relativa frequência.   E aqui chegamos à nossa história. Pregões eletrônicos para aquisição de computadores eram rotineiros na UPRP e muitos computadores iam e vinham co

Gênese do Poder

Em 1980 quando eu fazia os créditos do mestrado havia uma cadeira obrigatória chamada Problemas Brasileiros.   Em uma das aulas recebemos um professor da ESG – Escola Superior de Guerra.   Não lembro do seu nome mas sua aula foi inesquecível: A Gênese do Poder . Primeiramente ele começou dizendo que Poder = vontade + capacidade.   Ou seja, a frase “querer é poder” é falsa.   Não basta querer, é preciso ter capacidade sem a qual só se terá frustrações.   Por outro lado, se tiver capacidade mas não tiver vontade, tal capacidade torna-se inútil. Depois ele começou a explicar como na natureza tudo que dá errado acaba por desaparecer.   Seria parte da seleção natural.   Se plantas ou animais não encontram condições favoráveis de existência acabam por desaparecer.   Até aí, nada de mais.   Até que ele propôs uma questão: todos consideram a favela como um lugar horrível de existência.   Onde os mais pobres vivenciam todo tipo de sofrimento como se fosse a antessala do inferno.   Então v

Procure seu Chefe

  Durante o tempo que passei no Campo de Provas da Marambaia (1979-1981) uma situação me incomodava demais.   O responsável pelo meu grupo, ou seja, o meu chefe o Tenente-Coronel Asdrúbal (* nome fictício) quase não ficava no local.   Havia um grupo de 3 Kombis que eram de uma empresa contratada para nos transportar ida e volta ao trabalho.   Asdrúbal chegava em uma das Kombis e pouco depois saía com a mesma Kombi e só voltava na hora do almoço.   As vezes só no fim do expediente. Fiquei então sabendo o motivo, através dos motoristas da Kombi.   Asdrúbal estava construindo uma casa em um terreno próximo da Restinga.   Ele usava o tempo do seu expediente para supervisionar e orientar a obra e, frequentemente as Kombis para transportar material de construção para lá (o contrato das Kombis não era pra isso).   Eu não conseguia aceitar a idéia de que aquele que deveria ser meu exemplo e fiscalizar o meu trabalho pudesse ter uma atitude tão venal e descarada. Muito embora ele não se env