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Mostrando postagens de outubro, 2020

Gente Perfeita

  Em 1975 quando eu ainda estava na graduação, como parte do treinamento militar, passamos alguns dias em uma escola de Guerra Química na EsIE.   Basicamente era para aprender a lidar com explosivos.   Foram dias inesquecíveis e algo, em especial, me chamou a atenção.   Na fachada do prédio principal havia uma inscrição: AQUI SÓ SE ERRA UMA VEZ.   Isso foi motivo de muitas piadas, pois logo concluímos que ali era um lugar de gente perfeita .   Afinal quem errou, não estava mais ali – ou morreu ou estava incapacitado. Essa frase até hoje ecoa em minha mente, não apenas com seu sentido original – que todo o cuidado deveria ser tomado ao lidar com explosivos, pois errar significava morrer ou matar outros – mas, principalmente, pelo fato de como as pessoas lidam com seus erros. Existem pessoas que não admitem que erram, principalmente quando estão em cargos de chefia.   Aprendi até uma frase jocosa que dizia: chefe não erra, as vezes se engana e sempre por culpa do subordinado. Até e

SAM100 - As Janelas

  Quando o projeto do SAM100 estava chegando ao fim, chegou a hora de finalizarmos o painel de programação.   Cada cartão eletrônico era faceado por uma placa de alumínio onde estavam os bornes para a programação.   Cada conjunto de placas tinha sua própria nomenclatura que deveria ser gravada no alumínio. Acontece que a oficina mecânica do IPD (instituto do CTEx que não existe mais) tinha uma máquina que fazia exatamente esse trabalho.   Assim, foi imediato fazer o pedido de serviço para que fossem feitas as gravações nas placas.   Após algumas semanas de silêncio, veio uma resposta estranha.   Haviam ordens do comando do CTEx – que naquele momento estava sendo construído em Guaratiba – que a oficina só se ocupasse em fazer as janelas que seriam colocadas nos prédios do CTEx.   É uma postura estranha por se tratar de um instituto de pesquisa.   Primeiro porque as atividades de pesquisa (e era o caso) deveriam ter prioridade.   Em segundo, porque fazer janelas poderia ser feito em

SAM100 - O Pepino

  Em 1982 eu já havia deixado o projeto Roland e estava trabalhando no projeto ATTMM (aquisição de tecnologias em tele-direção e materiais para mísseis).   Precisávamos de meios para simular as equações da dinâmica de voo dos foguetes.   Na época, a principal ferramenta para isso eram os computadores analógicos.   Como eu havia feito minha tese usando um e era engenheiro eletrônico propus ao meu chefe construir um computador analógico com os recursos do projeto.   Ele se chamou SAM_100 (simulador analógico modular). Logo no início identifiquei a necessidade de relés especiais (reed) e chamei o representante para definirmos a compra.   Ele me passou a cotação e eu lhe disse que compraríamos 50 unidades.   Imediatamente eu levei, em mãos, a cotação ao sargento que cuidava das compras. 15 dias depois, estava em cima da minha mesa, a caixa com os relés.   Fiquei surpreso com tanta eficiência.   Mas essa alegria durou pouco.   Na semana seguinte, meu chefe me procurou e me disse que não

Critério Estético

  Em 1980, estávamos estudando o lançamento de foguetes que eram feitos de uma rampa instalada no Campo de Provas da Marambaia.   Percebemos que, apesar de ser lançado sempre do mesmo ângulo, as trajetórias dos foguetes tinham uma dispersão anormal. Decidiu-se, então, fazer uma filmagem rápida do momento do lançamento para saber qual efeito perturbador estava acontecendo durante a largada da rampa.   Dito e feito, o filme mostrou que o foguete, ao se desprender da rampa, sofria uma pequena “queda” antes de continuar sua trajetória.   Conclui-se, com isso, que a rampa era curta demais para oferecer a estabilidade aerodinâmica que o foguete necessitava. Imediatamente se fez a pergunta: porque a rampa tem aquele comprimento?   Rapidamente soubemos que se tratava de um projeto de graduação da turma de engenharia mecânica de armamento de alguns anos antes.    Procurou-se, então, seus projetistas e lhes questionamos o porquê do tamanho daquela rampa.   A resposta foi surpreendente – era

Caixinha Misteriosa

  Um curioso episódio aconteceu logo no primeiro ano da minha carreira.   Estávamos recebendo um técnico alemão que veio para fazer alguns ajustes no motor do Panzer lançador dos mísseis Roland.   Era um sujeito bastante sisudo que mal falava inglês, o Stuk (* nome fictício).   Ele abriu a enorme tampa do motor do Panzer e adentrou ao motor com uma grande chave de boca para mover um certo parafuso sem fim.   Nisso ele saca do bolso uma pequena caixinha metálica onde se via um led verde.   Dessa caixinha saíam 2 fios que ele fixou em algum lugar do motor que não dava pra ver.   Stuk foi torcendo o tal parafuso sem fim até que o led da tal caixinha misteriosa acendeu.   Ele parou imediatamente e disse que estava pronto. Estávamos assistindo aquilo e meu chefe imediato o Major Ábaco (* nome fictício) falou em voz baixa:   o que será que tem dentro daquela caixa ?? Juntou a equipe e mais uma vez reforçou a ideia de que precisaríamos descobri o segredo da tal caixinha, pois poderia rev