Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2020

O Bruxo

Em 1983 aconteceu um episódio um tanto bizarro.   Eu estava na sala de engenheiros do IPD-4 no Forte São João, quando ouvi o comentário de que alguém havia retornado de um período internado no hospício – vou chamá-lo de Febrônio – e que estaria se apresentando para trabalhar.   Não passou nem meia hora, Febrônio apareceu lá.   Era uma figura medonha.   Dessas que só se vê em filmes de terror. O Coronel Asdrúbal (lembram dele) se dirigiu a Febrônio dizendo que ficou sabendo de sua internação e perguntou como ele estava.   A resposta de Febrônio foi inusitada:   sou um bruxo e tenho poderes !!!   Ho uve um momento de silêncio diante de tal afirmação e que foi quebrado pelo próprio Febrônio, ao se dirigir a Asdrúbal.   - O senhor não acredita em mim não é mesmo?   Eu posso provar.   Posso lhe dizer agora mesmo o que o senhor está pensando. Diante de tal desafio, a atitude de Asdrúbal foi sensacional.   Ele imediatamente respondeu:   ora essa, para que perder tempo com isso, o que esto

Possessão Burocrática

  Antes de seguir com os meus “causos”, vale a pena refletirmos sobre um dos verdadeiros inimigos – a burocracia.   É fundamental entender o que é a burocracia e como ela possui o indivíduo e a sociedade.   Uso o verbo possuir pois cheguei à conclusão de que a burocracia tem um aspecto emocional / espiritual semelhante à possessão demoníaca e assim passo a chamá-la de possessão burocrática . A palavra burocracia advém do termo francês bureau (escrivaninha) e remete ao trabalho administrativo / organizacional.   Qualquer empreendimento precisa ser organizado para ser bem administrado.   Essa necessidade leva à criação de regras e procedimentos.   A isso chamamos administração.   Burocracia é quando as regras e procedimentos se tornam mais importantes que os objetivos que as criaram.   Rapidamente passamos da boa administração pra um sistema autofágico (que se alimenta de si mesmo).   Passo a existir para resolver os problemas que eu mesmo crio, sem compromisso em alcançar qualquer ob

Doação Indesejada

Esse episódio veio do leitor deste blog, que se identifica como “um pesquisador brasileiro”.   A história é completamente semelhante às vividas por mim.   Incentivo aos leitores que quiserem contribuir que mandem os seus “causos”. Quando fui pesquisador na universidade pública republicana dos pinheirais (UPRP), por dois anos também fui professor substituto, totalizando uma jornada de extenuantes 77,5h de trabalho por semana.   O trabalho de pesquisador era prazeroso e flexível, nada que não estivesse acostumado a fazer desde os tempos de doutorado. Por outro lado, ao assumir o cargo de professor, fui apresentado a um lado da docência que ainda não conhecia: as reuniões de departamento. Eu sabia que no departamento que estava alocado havia algumas rixas, mas o que eu estava vendo era surreal e desanimador. Professores doutores, bolsistas de pesquisa do órgão nacional de pesquisas praticamente indo às vias de fato por qualquer quirera de recurso – por sinal, até abundante na UPRP. Pa

Vaga com Dono

Em 1983 eu já estava decepcionado com meu trabalho no IPD.   Apesar de trabalhar em um projeto que tinha objetivos interessantes (embora mal definidos) e ter recursos financeiros, eu não via progresso.   Parecia que estávamos vagando sem direção e nada de concreto acontecia.   Eu já havia terminado o mestrado e começara o doutorado na COPPE/UFRJ.   Decidi procurar outro emprego. Comecei a olhar anúncios no jornal (era assim que se procurava emprego na época) e achei um muito bom.   Tratava-se de uma vaga para engenheiro eletrônico no Instituto de Engenharia Nuclear.   Mandei meu currículo e marcaram um teste escrito.   Compareci no local e data marcados e, para minha surpresa, havia mais de 50 candidatos presentes.   A prova era grande e bem elaborada.   Era essencialmente de eletrônica e exigia conhecimentos de bancada. No dia seguinte recebi um telefonema do responsável pela vaga – vou chamá-lo de Garibaldo.   Eu havia tirado o primeiro lugar e ele queria marcar uma entrevista