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Mostrando postagens de agosto, 2020

Chinelo Mutante

  Como já mencionei no post   “começam os problemas”, o Campo de Provas da Marambaia era uma organização militar e havia educação física obrigatória duas vezes por semana.   Todo o trabalho era suspenso naqueles momentos e podíamos jogar bola, ir à praia ou fazer outra atividade física que desejássemos, terminando com um delicioso banho.   Para isso mantínhamos nossas roupas próprias em um pequeno vestiário.   Havia também, em nosso setor, um funcionário terceirizado para a limpeza que chamarei de Zé.   Zé era morador das redondezas e tinha uma personalidade estranha, sempre de cara amarrada.   Os outros colegas de trabalho, mais antigos, não gostavam dele e o achavam com atitude suspeita.   Aconteceu que o meu par de chinelos desapareceu do vestiário.   Perguntei a todos os meus colegas e ninguém havia visto.   Concluí então que ele havia sido subtraído.   Comentei isso em voz alta.   Posteriormente, descobri que essa é uma tática muito eficiente - mais tarde comentarei sobre isso e

O Barco

  No período em que trabalhei no Campo de Provas da Marambaia eu comecei desenvolver alguns circuitos eletrônicos que deveriam ser usados como ferramentas de teste para os demais equipamentos que faziam parte do sistema de mísseis Roland.   Resolvi então fazer um rack de madeira que contivesse as placas de circuito.   Fiz um esboço e encaminhei para a carpintaria do IPD (que ficava no Forte São João na Urca) onde eu era lotado.   Havia uma carpintaria no prédio ao lado de onde trabalhava no CPrM mas fui orientado a não pedir nada lá pois eu não era vinculado àquela organização e sim ao IPD. O tal rack demorou meses pra ser feito e, quando chegou, veio todo errado.   Fiquei indignado com aquilo pois tratava-se de algo muito simples de ser feito.   Até pensei que pudesse ser culpa minha que não tivesse sido claro naquilo que queria ou que eles estivessem ocupados com coisas mais importantes.   Na primeira oportunidade em que tive de ir à minha sede na Urca, fui na tal carpintaria para

Sabe Tudo

Esse episódio veio de outro leitor deste blog, que chamarei de Camboja.   A história é completamente semelhante às vividas por mim.   Mais uma vez, incentivo aos leitores que quiserem contribuir que mandem os seus “causos”. Num país longínquo, o Brazuquistão, um órgão estratégico do governo desenvolveu, tempos atrás, um equipamento de alta desempenho, com seu software crítico utilizando Linux/C++.   O equipamento foi utilizado em vários locais com sucesso. Após uma década de bons serviços, iniciou-se a atualização tecnológica do equipamento, com o objetivo de pelo menos triplicar seu desempenho. No meio da atualização, um novo chefe foi nomeado para esse órgão.   Tinha titulação de alto nível, porém de uma área diferente daquela em questão – software.   Resolveu se intrometer no processo, dizendo então que o software deveria ser refeito em Java.   Argumentando, com a pose de quem sabe tudo , que "ninguém mais usa C++".   Para quem não conhece o assunto, basta dizer que

Alérgico a Pó

O prédio onde eu fazia mestrado tinha 4 andares e os diversos departamentos cuidavam da limpeza de suas áreas de forma compartilhada.   Curiosamente o meu setor era muito sujo, fedido mesmo.   O estranho é que havia um funcionário específico encarregado da limpeza daquele setor.   Vou chamá-lo que Querido.   Querido era funcionário de carreira para serviços gerais. O motivo de tanta sujeira era que Querido, em vez de fazer sua obrigação, passava o dia lavando os carros no estacionamento que ficava de fora do prédio.   Como o local era beira-mar, não faltava quem quisesse manter seu carro livre da maresia.   Esse era o expediente de Querido. Então, um novo chefe assumiu o departamento.   Percebendo imediatamente o problema, chamou Querido para cobrar dele que fizesse sua obrigação.   Querido argumentou que era muito pobre e precisava daquela complementação de renda.   O novo chefe, querendo ser bom moço mas ainda assim ter um mínimo de serviço realizado, deu a seguinte ordem:   você

Sujeira Digital

Esse episódio veio de um leitor deste blog, que prefere se identificar como “um pesquisador brasileiro”.   A história é completamente semelhante às vividas por mim.   Incentivo aos leitores que quiserem contribuir que mandem os seus “causos”. Por volta de 2011, em uma universidade pública onde fui pesquisador, adquirimos um equipamento que usava a antiga porta paralela. Num mundo de computadores com USB, achar um micro com porta paralela era uma aventura! O equipamento era de excelente qualidade e o fabricante se recusava a atualizar a comunicação (depois, inclusive passou a vender computadores com porta paralela junto com o equipamento).   Assim, valia à pena garimpar o almoxarifado da universidade e tentar conseguir um micro antigo que funcionasse. Tudo pela pesquisa. Conversei com o chefe do laboratório, expliquei o que precisaria, imprimi uma guia de patrimônio e lá fui eu àquele galpão acompanhado de um amigo que não conhecia o lugar. Lá chegando, encontrei o responsável sent