DENUNCIA

Após a reestruturação organizacional ocorrida devido à fusão do IAE com o IPD, o próprio projeto VLS passou a ser conduzido de maneira diferente.  Começaram a ocorrer reuniões com todo o pessoal, em nível de chefia, envolvido no projeto.

Devido ao grande número de participantes, essas reuniões aconteceram em um auditório onde havia um tablado em que a pessoa que estava expondo alguma coisa se posicionava.  Em uma das primeiras reuniões Kruger, que agora estava no grupo de engenharia de sistemas, tomou a palavra para expor as condições da rede elétrica do VLS.

Qual não foi a minha surpresa quando ele, ao se referir ao sistema de controle, disse que não havia documentação do projeto de sistema de controle.  Eu estava na plateia e reagi imediatamente.  Você ficou maluco! Disse eu alta voz.  “Como você pode dizer uma coisa dessas?  O projeto está totalmente documentado!”

Kruger retrucou: não tenho conhecimento de nenhum relatório.  Respondi: “é só procurar com o setor de documentação.  Todos os relatórios tiveram cópias encaminhadas para a gerência (onde ficava o setor dele).  Se você não leu não diga que não existe!”.  A reunião continuou e outros assuntos foram discutidos.

Mais uma vez Kruger estava procurando algo para me incriminar ou ferir e dessa vez publicamente.  No dia seguinte, procurei o diretor do IAE o então Coronel Chaves.  Como fora ele que havia me contratado e me ajudado na transferência transitória para a divisão de sistemas bélicos, eu tinha plena liberdade de lhe falar.

Fui na sala dele e descrevi o ocorrido no dia anterior.  De forma simplificada disse que Kruger continuava me perseguindo e dessa vez com uma acusação ridícula de que eu não havia produzido a documentação do projeto do VLS.

A resposta de Chaves me deixou atônito : “Eu sei.  Kruger já veio aqui falar sobre isso e procedemos uma investigação e vimos que a documentação está toda lá.  Fique tranquilo.”

Eu saí de lá num misto de emoções.  Certeza de que Kruger não havia me esquecido.  Continuava na espreita, pronto para dar um bote.  Mais uma vez sua tentativa havia caído por terra.

Entretanto, havia um outro aspecto a ser considerado.  Eu havido sido denunciado, investigado e inocentado sem ter conhecimento de nada.  O que mais incomoda nisso é que o denunciante não sofreu nenhuma consequência pela denúncia falsa que fez.

Como aceitar que pessoas façam denúncias com o intuito claro de prejudicar / desmoralizar os outros e nada acontecer com elas.  Denunciação caluniosa é crime. 

Como pude perceber nos anos que se seguiram, isso faz parte da cultura institucional – colocar panos quentes (como meus pais diziam) para abafar o caso.  Com isso julgam preservar a imagem institucional mas o efeito é exatamente o contrário.  Causam sim o descrédito e a insegurança de quem quer trabalhar sério.

“Quem poupa o lobo, sacrifica as ovelhas” Vitor Hugo

Comentários

  1. O pior é que isso continua a acontecer. O denunciante sempre é um problema na instituição e sempre quer prejudicar o outro sem provas. Muito triste

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  2. Tema nebuloso que caracteriza conduta abusiva que agride a saúde psíquica das pessoas! O que assusta é que é prática recorde nas empresas ! Vivemos assim, nas não podemos mesmo nos confirmar.

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  3. Olhando a situação de cima, o processo ocorreu como deveria, a investigação não é um problema se ocorrer no devido sigilo e baseada em provas.
    Se o processo iniciou e finalizou sem o conhecimento do investigado ele sendo inocente, isso evita outros problemas (tirar satisfação na bala).
    É claro que na ocorrência de repetidas denúncias falsas, deveria haver um processo interno para avaliar a motivação destas denúncias e então penalizar o delator.

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