A Inércia
No primeiro semestre de 1979 eu estava trabalhando no Campo
de Provas da Marambaia. O expediente lá começava
por volta das 7:30.
Eu estava desenvolvendo um circuito eletrônico e precisava
de um osciloscópio que se encontrava no almoxarifado do CPrM. Por volta das 8:30, caminhei até lá e fui
atendido prontamente pelo Tenente Itália (* nome fictício) que imediatamente trouxe o equipamento,
colocou em cima da mesa e me deu uma cautela para que eu assinasse. A cautela estava previamente preenchida à
máquina com a descrição detalhada do equipamento. Eu assinei a cautela, bastante satisfeito com
a eficiência, até então.
A partir desse instante, o Tenente Itália dirigiu-se até a
porta e ficou em silêncio, de braços cruzados, olhando para o mar que ficava bem em frente. Após alguns instantes de
estranho silêncio, tomei a iniciativa de perguntar: “então tenente? tudo certo ?
posso levar o osciloscópio ?” Ele
então respondeu: “É preciso datilografar o seu nome na cautela e para isso
temos que esperar a secretária.” Essa não se encontrava presente. Não sei dizer onde estava.
Achei que o problema seria bastante simples de resolver e
disse: “Ora se é só isso, eu mesmo posso datilografar o meu nome.” Peguei a cautela coloquei na máquina de
escrever que estava à minha frente e ia me sentar para datilografar as 26
letras que formam o meu nome quando ele veio feito uma bala da porta em minha
direção. Arrancou o papel da máquina e
começou a gritar: “o que você pensa que
está fazendo ? Esse trabalho é da
secretária! Você terá de esperar ela
chegar. Não adianta tentar apressar as
coisas. Aqui é inércia mesmo! e você não vai mudar isso.“
Diante de tamanho disparate, eu me retirei em silêncio e
não retornei para pegar o equipamento. Este
me foi entregue após o almoço.
Na hora do almoço encontrei com o Capitão que era chefe do Tenente
Itália e reportei o acontecido. Mais
tarde eu soube que o Capitão havia chamado a atenção do Tenente, que se tornou
meu primeiro desafeto. Muitos outros
viriam...
Hoje me pergunto o que se passava na cabeça daquele homem. Será que ele acreditava realmente que estava agindo corretamente ? Estaria ele querendo, de alguma forma, punir a secretária ? Será que ele não percebia que os objetivos eram mais importantes que regras de organização, que ele mesmo havia criado ?
A inércia é inexorável!
ResponderExcluirEste episódio claramente mostra como funciona a burocracia !!!
ResponderExcluirO que será que se passa na cabeça da pessoa pra agir desse jeito?! Atrasando a vida dos outros e a troco de nada.
ResponderExcluirMal sabe ele o que é inércia coitado. O que eu vejo, são um bando de mentecápios robóticos querendo mostrar autoridade. Complexo de inferioridade.
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