TORRE DE BABEL

 A partir de 1985, já trabalhando no IAE, havia uma intensa necessidade de se produzir programas de simulação.  Várias necessidades diferentes de um mesmo problema que exigia que cada um fizesse o seu próprio programa para resolver sua questão específica.

Isso não soaria como um problema se todos usassem a mesma linguagem, mas não era isso que acontecia.  Cada profissional tinha suas próprias preferências que aprendera na época de estudante.  Assim, havia quem preferisse Pascal, outros Basic, outros ainda estavam familiarizados com o antigo FORTRAN.  Assim, diversos programas, que se referiam a um mesmo problema maior, não se falavam (nem se entendiam) com o outro.  Era uma verdadeira Torre de Babel. 

Decidi então solicitar ao engenheiro Stuart (das postagens Milagre) que fizesse reuniões com a equipe para chegar a uma conclusão de qual software seria utilizado por todos, para que houvesse padronização e intercambialidade do que se estava fazendo.  Que cada um apresentasse seus prós e contras para que se chegasse a uma conclusão de qual linguagem seria a mais adequada.

Após algumas semanas, Stuart me veio com a resposta de que não havia tido nenhum consenso e que tudo continuaria como estava.  Achei um despautério aquela conclusão.  O problema era real e precisava ser resolvido.  Como montar a simulação de um veículo completo se cada parte era feita com uma linguagem diferente ?

Essa situação se arrastou durante muito tempo e só foi equacionada quando surgiu a ferramenta chamada MatLab (hoje utilizada ostensivamente em todas as universidades).  Como todos os profissionais gostaram da ferramenta, foi natural a transição para ela e se tornou possível construir uma infraestrutura de software onde cada um faria sua parte sem problemas de intercambialidade.

Com a grande evolução que a área de TI teve nas últimas décadas, fica difícil entender o que estava acontecendo do ponto de vista técnico.  Entretanto, o problema nunca foi a diversidade de linguagem e sim o egoísmo de cada um querer o melhor para si em detrimento do todo.  A Torre de Babel existente não era uma maldição divina como no relato de Gênesis.  Os profissionais não queriam aprender uma nova linguagem por incapacidade ou grau de dificuldade.  Estavam sim acomodados com o que sabiam e faziam e não estavam se importando se isso impedia o progresso do projeto como um todo.  A mudança aconteceu porque o MatLab agradou as pessoas, não porque tivessem se conscientizado da necessidade da mudança.

Passado tantos anos, hoje vejo que o verdadeiro problema era a falta de espírito de equipe e do seu papel nela.  Não era incapacidade técnica ou alguma questão de caráter.  Uma equipe será vitoriosa quando seus membros trabalharem para o objetivo comum.  Isso pode parecer óbvio mas, mesmo quando o objetivo está claro, sua percepção individual pode variar.

Lembro-me de uma antiga ilustração de alguém que chega para alguns pedreiros que estavam assentando tijolos e lhes pergunta: o que vocês estão fazendo?  O primeiro responde: estou ganhando o sustento para minha família.  O segundo responde: estou levantando uma parede.  O terceiro responde: estou construindo uma casa.  As 3 respostas estavam certas.  Porém, a visão que cada um tem do seu papel no todo é fundamental.

Quando se tem a visão correta do objetivo maior e qual a sua participação nele, a motivação que leva a uma atitude construtiva, vem naturalmente.

Enquanto isso, aqueles que preferem continuar falando sua própria língua (e não a da equipe) continuam sobre a maldição da Torre de Babel e seu destino é ser espalhado pelo mundo. 

Comentários

  1. Uma frase famosa de Michael Jordan é: "O talento vence jogos, mas o trabalho em equipe e a inteligência gA ham o campeonato “

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