CASA FURADA

Ainda em 1979, no galpão que hospedava o sistema Roland, havia um almoxarifado com um grande ferramental para a manutenção dos veículos lançadores de mísseis (PANZERs).  Eu estava desenvolvendo um protótipo eletrônico e precisei de uma furadeira (dessas que toda casa tem hoje). 

Fui até o almoxarifado e perguntei se havia uma furadeira.  Me responderam que sim, mas que estava com o Maurício (* nome fictício).  Mauricio era um funcionário de nível médio, que na época chamava de estatutário, diferentemente dos demais que eram contratados Celetistas. 

Fui até o Maurício e pedi para usar a furadeira.  Ele me disse que havia levado pra casa para fazer uns furos.  Como não era urgente, só o procurei na semana seguinte e ele me deu a mesma resposta. Aquilo me incomodou.  Já não bastasse estar usando do patrimônio público como se fosse seu particular, estava atrapalhando o desenvolvimento do meu trabalho.  Falei então já num tom mais sério que eu queria que ele trouxesse de volta a furadeira no dia seguinte.

No dia seguinte, assim que as Kombis chegaram com o pessoal, eu me dirigi ao Maurício e pedi a furadeira.  Ele me disse que havia esquecido.  Fiquei bastante transtornado e disse a ele que iria comunicar ao Tenente-Coronel que era o chefe daquele grupo.  Me dirigi imediatamente à sala do TC mas ele não havia chegado, estava presente um Capitão, meu contemporâneo de IME e profissional sério.  Quando eu estava relatando o ocorrido para ele aparece o Maurício com a furadeira na mão.  Ele estava me testando para saber o que eu iria fazer. 

Então o Capitão perguntou a ele o que ele estava fazendo com a furadeira.  Ele repetiu a mesma ladainha, que estava fazendo uns furos em casa.  O Capitão me saiu com um comentário surpreendente e hilário:  Poxa Maurício pelo tempo que você está fazendo furos na sua casa, ela deve estar toda furada.  Cuidado para que ela não desabe...

Não precisa dizer que Maurício se tornou mais um desafeto.

Posteriormente fiquei sabendo que ele usava costumeiramente as ferramentas do projeto para fazer trabalhos remunerados nos fins de semana.  Ou seja, ele usava o patrimônio público em proveito próprio, fato que vi se repetir muitas vezes ao longo da minha carreira.


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