Macaco Gordo
Ainda em 1981, eu trabalhava
no projeto ATTMM – Aquisição de Tecnologia em tele direção e materiais para
mísseis que era chefiado pelo Tenente-Coronel Bernardo Severo da Silva Filho (a
quem honro aqui como um bom chefe e bom amigo).
Eu estava precisando de uma
certa orientação para a minha dissertação que era pilotagem de mísseis em fase
de cruzeiro. No Rio de Janeiro não havia
ninguém que pudesse me ajudar. Então, fiz
contato com o pessoal do IAE que estava desenvolvendo o míssil Piranha e
marquei uma visita a São José dos Campos para conversarmos.
O ATTMM tinha verba para essa finalidade. Os recursos do projeto eram administrados
pelo TC Pereira (* nome fictício).
Solicitei então que fosse comprada a passagem Rio – São José – Rio, bem como uma diária (fiquei
apenas uma noite). Realizada a missão
com grande sucesso, me dirigi ao meu chefe o TC Severo para relatar o que havia
sido discutido. TC Pereira estava
presente. Eu estava eufórico e disse que
deveríamos ter mais contatos daquele tipo.
Nesse momento o TC Pereira me interrompeu dizendo: “Pode parar com isso.
Não fique inventando viagens não. Dessa vez eu quebrei o seu galho”.
Embora eu tivesse apenas 3 anos de formado, já estava
ficando sem paciência para ouvir tolices desse gênero. Não perdi um segundo para replicar: “Coronel
quem quebra galho é macaco gordo. O
senhor não fez mais que sua obrigação!”
Pereira ficou furioso, se eu fosse militar teria sido preso. Severo imediatamente interviu dizendo: “Pereira
ele estava cumprindo as minhas ordens” e acalmou a situação.
Considero um absurdo que alguém que está fazendo seu trabalho com dedicação tenha que ouvir esse tipo de argumento - quebrar o galho - como se o outro estivesse lhe fazendo algum favor e não sua obrigação, para o qual é pago. A partir desse dia, todas as vezes que eu solicitava algum tipo de ação de alguém que vinha com essa conversa, eu imediatamente respondia: "por favor, se não for sua obrigação não faça".
Depois desse episódio nunca mais solicitei nenhum tipo de
viagem. Mas que eu lavei a alma naquele dia isso eu lavei.
Mesmo depois de ter saído do IPD, mantive contato e amizade com o Coronel Severo até seu falecimento em 2019. Ele nunca comentou sobre aquele incidente. Provavelmente porque sabia que eu estava certo.
O Pereira devia estar tão acostumado com servidores inventando viagens para passear que ele nunca deve ter visto antes alguém viajar para trabalhar. Conheço alguns que viajam para o exterior às custas do dinheiro público e não agregam nada à sociedade depois.
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