Alérgico a Pó

O prédio onde eu fazia mestrado tinha 4 andares e os diversos departamentos cuidavam da limpeza de suas áreas de forma compartilhada.  Curiosamente o meu setor era muito sujo, fedido mesmo.  O estranho é que havia um funcionário específico encarregado da limpeza daquele setor.  Vou chamá-lo que Querido.  Querido era funcionário de carreira para serviços gerais.

O motivo de tanta sujeira era que Querido, em vez de fazer sua obrigação, passava o dia lavando os carros no estacionamento que ficava de fora do prédio.  Como o local era beira-mar, não faltava quem quisesse manter seu carro livre da maresia.  Esse era o expediente de Querido.

Então, um novo chefe assumiu o departamento.  Percebendo imediatamente o problema, chamou Querido para cobrar dele que fizesse sua obrigação.  Querido argumentou que era muito pobre e precisava daquela complementação de renda.  O novo chefe, querendo ser bom moço mas ainda assim ter um mínimo de serviço realizado, deu a seguinte ordem:  você poderá passar meio expediente lavando carros, desde que no meio expediente que estiver no prédio faça a limpeza necessária.

Na semana seguinte Querido apareceu com um atestado médico que dizia que ele era alérgico a pó!!!!  Que situação ridícula.  Se ele fosse alérgico a pó jamais poderia ter sido contratado como faxineiro.  Além do mais, como poderia ele estar lavando os carros em frente ao prédio.  Sua alergia já o teria matado.

O fato é que não passava de uma desculpa esfarrapada e corrupta para não ter que fazer sua obrigação.  Onde foi que ele conseguira tal atestado ?  Caberia pedir perícia médica, pois se fosse verdade ele teria de ser aposentado por incapacidade ao trabalho.  Ele simplesmente se recusava a trabalhar meio expediente quando era pago pelo expediente inteiro.  Será que ele se auto justificava da sua safadeza por ser pobre ?

Casos semelhantes encontrei às dezenas em minha carreira.  Pessoas que usam o serviço público em causa própria, de forma desonesta, com a maior desfaçatez e as mais diversas desculpas.  Não passam de parasitas da nação.

Essa gente só se cria porque existe um fenômeno na hierarquia do serviço público.  Um colega de trabalho deu um nome que passei a adotar para tais atitudes:  BOM MOCISMO.  Todos querem ser bons moços, não querem ser vistos como “maus” por exigirem que as coisas sejam feitas da maneira correta.  

Para o tipo de gente como Querido, não é o pó que causa alergia e sim o trabalho honesto.

Comentários

  1. Mesma coisa por aqui, aproveitadores, espertos, sobreviventes, safos... são alguns dos profissionais que encontrei na minha vida, não importa o nível de formação, sempre quererendo uma vantagem corrupta

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  2. Enredos semelhantes em cenários diferentes.. quem nunca presenciou, que jogue a primeira pedra.

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