Sujeira Digital

Esse episódio veio de um leitor deste blog, que prefere se identificar como “um pesquisador brasileiro”.  A história é completamente semelhante às vividas por mim.  Incentivo aos leitores que quiserem contribuir que mandem os seus “causos”.

Por volta de 2011, em uma universidade pública onde fui pesquisador, adquirimos um equipamento que usava a antiga porta paralela. Num mundo de computadores com USB, achar um micro com porta paralela era uma aventura! O equipamento era de excelente qualidade e o fabricante se recusava a atualizar a comunicação (depois, inclusive passou a vender computadores com porta paralela junto com o equipamento).  Assim, valia à pena garimpar o almoxarifado da universidade e tentar conseguir um micro antigo que funcionasse. Tudo pela pesquisa.

Conversei com o chefe do laboratório, expliquei o que precisaria, imprimi uma guia de patrimônio e lá fui eu àquele galpão acompanhado de um amigo que não conhecia o lugar. Lá chegando, encontrei o responsável sentado no seu escritório. Ele mal levantou a cabeça quando me viu. Tentei explicar que queria um micro antigo, que tivesse aquela porta.

De repente, ele me olhou meio estranho e disse que eu podia entrar, mas que fizesse tudo escondido, sem ninguém me ver.  Como assim? Por que, raios, eu precisaria pegar algo escondido se era parte do meu trabalho e estava com a guia de patrimônio para levá-lo legalmente?

Bem, fui lá eu, em meio a dezenas de estantes com computadores antigos, procurando algum com a bendita porta.  Até que achei!! E estava super conservado! Tinha tudo pra funcionar.  Ao sair com o computador em mãos, o gerente me para escandalosamente:

- Aí é sujeira! Você quer levar o computador todo? Alguém vai dar falta!

Fiquei assustado com a reação dele, mas mostrei a guia de patrimônio. Como já tinha explicado antes, eu queria levar o computador legalmente.  Porque alguém iria dar falta, se estaria registrado onde e com quem estava?

Ele deu uma risadinha meio sem jeito, assinou a guia e me liberou para levar o computador, que por sinal, funcionou perfeitamente rodando um potente windows 98 sem internet, mas que lia pen drive. Era tudo o que eu precisava!

Saindo do almoxarifado, conversei com meu amigo. Quantas peças de computador aquele gerente já não tinha visto serem levadas sem nem pestanejar?  Com que finalidade? Se era para trabalho qual seria o problema de “canibalizar” o equipamento, exatamente como em um ferro velho.  Ele estava tão acostumado ao erro, a ponto dele estranhar e reclamar quando eu fui fazer o procedimento correto? Eita Brasil...


Comentários

  1. Dr Waldemar.
    Qual a sua opinião sobre o termo de referência da Etec de um sistema inercial da AEB?
    A CLC vai participar?

    obrigado

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    Respostas
    1. A CLC gostaria de participar. Para maiores detalhes, melhor no privado. Escreva para waldemar@castroleite.com.br

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  2. Gerente acostumado a permitir roubos que até se surpreende quando alguém faz o correto.

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