A Lenda do Banco Pintado

Esse episódio me foi contado como um fato acontecido em algum quartel do Exército Brasileiro.  Entretanto, com o passar dos anos comecei a achar que se trata de uma lenda.  Ainda assim, seu ensinamento é tão importante que passo a narrar aqui.

Na guarita de entrada de um certo quartel, havia um banco onde os soldados de sentinela poderiam ficar sentados durante seus turnos.  Como o tal banco ficava exposto à intempérie, o comandante do quartel mandou pintá-lo e deu ordem para que ninguém sentasse no banco até que a tinta secasse. 

Essa ordem foi transmitida ao comandante da guarda que anotou na ordem do dia que era proibido sentar no banco.  No dia seguinte, o novo comandante da guarda transcreveu as mesmas ordens para seus soldados e assim sucessivamente.

Reza a lenda que o banco apodreceu ao relento sem que jamais tenha sido usado pois todos sabiam que era proibido sentar no banco.  Ninguém nunca questionou o porquê de ser proibido sentar no banco.  Se havia algum motivo real para isso, porque não retiravam o banco de lá – já que era inútil?

Quantas vezes ouvi alguém mencionar essa história comparando a algum acontecimento daquele momento.  Quantas vezes nos deparamos com ordens ou mesmo leis que não fazem nenhum sentido mas que todos a cumprem à risca sem discutir? 

Não sou defensor de que se deva questionar ordens simplesmente por serem ordens – do tipo “si hay gobierno, soy contra”.  Entretanto, quando nos deparamos com ordens que não nos fazem sentido, deveríamos sim entender o porquê de tais ordens ou leis.

A ordem dada estava errada ?  Não!  Estava incompleta pois era temporária.  Essa história não seria contada se o comandante da guarda tivesse escrito a ordem corretamente: está proibido de sentar no banco até que a tinta seque – ou – está proibido sentar no banco por 3 dias – ou ainda – está proibido sentar no banco até sexta-feira (por exemplo).

A ordem claramente foi dada de forma incompleta.  Aliada ao fato da cultura de “ordens não se discute, se cumpre”, chega-se à bizarra história do banco pintado.

Não se precisa pensar muito para perceber, em nossa sociedade, quantos bancos pintados somos proibidos de sentar...

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