Botão de Emergência
Quando comecei a trabalhar no projeto Roland fizemos diversos cursos de treinamento de operação do sistema. Havia em nossa equipe um engenheiro mecânico que era conhecido carinhosamente como Dr. Silvana (aquele vilão do Capitão Marvel).
O veículo que transportava os mísseis – PANZER – era
totalmente blindado, como todo tanque de guerra deve ser. Seu enorme motor tinha uma tampa de aço de
uma polegada de espessura e pesava quase uma tonelada. Caso o motor pegasse fogo seria impossível
abrir a tampa do motor para prestar algum socorro ou impedir uma explosão. Então havia um sistema de emergência feito
com fortes molas que permitiam abrir a tampa em poucos segundos. A abertura desse sistema era pirotécnica. Ou seja, havia um explosivo posicionado na
tranca da tampa para rompê-la de forma a liberar a ação das molas.
Esse sistema de emergência era acionado por um grande botão
vermelho que ficava no topo do painel do comandante do Panzer, o “chef de pièce”.
Aconteceu que, durante o treinamento de operação do
sistema, o instrutor estava sentado na cadeira do chef de pièce ensinando o que significava cada botão do
painel. Dr. Silvana estava ao lado do
instrutor viu o grande botão vermelho e perguntou: o que acontece se eu apertar
esse botão? O instrutor respondeu: trata-se de um botão de emergência. Ele
deflagra uma carga explosiva que abre a tampa do motor. Incontinente Dr. Silvana dá um soco no
botão. Boom!! Uma explosão se sucede e a
tampa do motor se ergue em grande velocidade.
Acontece que a viatura estava dentro de um galpão, cheio de
gente em volta, que fazia parte da instrução.
Saíram todos correndo com o ambiente cheio de fumaça. Foi um milagre ninguém ter-se ferido. Inclusive, se houvesse alguém em cima do
Panzer (algo frequente) teria sido arremessado pela tampa.
Dr. Silvana emerge da escotilha do Panzer com o sorriso de
um menino travesso que acabara de fazer uma das suas. Quando perguntaram a ele
por que havia feito aquilo, ele respondeu que queria ver se era mesmo verdade
...
Pouco tempo depois Dr. Silvana foi demitido sumariamente.
Considero o episódio muito instrutivo para os dias de
hoje. Naquele tempo, um sujeito
irresponsável que colocou em risco a vida alheia e causou um prejuízo aos
cofres públicos podia ser demitido. Talvez
até devesse ser processado para indenizar o prejuízo causado. Entretanto, hoje em dia, não é mais o que
acontece em nosso serviço público. Ao
longo da minha carreira presenciei diversos casos de pessoas que deveriam ser
demitidas imediatamente pelo que faziam ou deixavam de fazer. Em vez disso, ou
nada acontecia ou eram transferidas. Alguns
infratores até se faziam de vítima dizendo-se perseguidos. Quando algum chefe, mais cioso de seu dever,
tentava punir um infrator, aparecia o assessor jurídico com a pérola “não houve
amplo direito de defesa”...
Tal cultura de impunidade travestida de justiça e
imparcialidade nos mantém ao nível da mediocridade.
Ainda bem que foi demitido. Faz muita falta mesmo poder demitir irresponsáveis e incompetentes quando necessário. Precisamos muito de meritocracia nesses tempos sombrios.
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