Gente Perfeita

 Em 1975 quando eu ainda estava na graduação, como parte do treinamento militar, passamos alguns dias em uma escola de Guerra Química na EsIE.  Basicamente era para aprender a lidar com explosivos.  Foram dias inesquecíveis e algo, em especial, me chamou a atenção.  Na fachada do prédio principal havia uma inscrição: AQUI SÓ SE ERRA UMA VEZ.  Isso foi motivo de muitas piadas, pois logo concluímos que ali era um lugar de gente perfeita.  Afinal quem errou, não estava mais ali – ou morreu ou estava incapacitado.

Essa frase até hoje ecoa em minha mente, não apenas com seu sentido original – que todo o cuidado deveria ser tomado ao lidar com explosivos, pois errar significava morrer ou matar outros – mas, principalmente, pelo fato de como as pessoas lidam com seus erros.

Existem pessoas que não admitem que erram, principalmente quando estão em cargos de chefia.  Aprendi até uma frase jocosa que dizia: chefe não erra, as vezes se engana e sempre por culpa do subordinado.

Até entendo que alguém em cargo de chefia tenha vergonha de admitir que erra porque talvez ache que deva manter a pose de perfeito.  Mas esse fenômeno, não é apenas de chefia, é bastante generalizado.  Muitos, não apenas não admitem o erro, até se sentem ofendidos por terem um erro apontado.  Normalmente tenta-se arranjar uma desculpa (esfarrapada) ou atribuir a responsabilidade a outrem.

Depois de tanto comentar casos assim, meu filho me deu uma camiseta com a cara do Homer Simpson onde está escrito:  a culpa é minha e ponho ela em quem eu quiser.

Tem gente ainda pior.  Aqueles que não se importam em errar e ainda dizem: fiz e daí?  Claro que esse tipo de gente só se cria em um ambiente de total impunidade, onde nada se é cobrado/responsabilizado muito menos punido.

De minha parte, vejo que a possibilidade de consertar o que se errou, é uma grande benção.  Só assim é possível o aperfeiçoamento.  Se só for possível errar apenas uma vez, não há possibilidade de se aprender com os próprios erros e assim evoluir.  Nunca tive problema em admitir um erro, especialmente se for um erro técnico.  Normalmente agradeço a quem me o aponta. 

Certa vez um diretor administrativo reclamou que eu havia encaminhado um documento de forma errada (ele não disse qual era o jeito certo e continuei não sabendo).  Eu respondi: Coronel, eu as vezes erro mas estou sempre tentando acertar.

Acabei declarando a essência de todo profissional sério.  As vezes erramos, mas estamos sempre tentando acertar.  Além disso, usamos nossos erros como mecanismo de melhoria e aprendizado.

Esse processo é continuo e permanente.  Não faço parte do grupo de gente perfeita, estou em aperfeiçoamento.