Despreparado
Em 1983 o gerente do projeto ATTMM decidiu comprar um computador analógico de última geração - EAI-2000. Fui última geração mesmo pois, depois disso, os computadores analógicos foram substituídos pelos algoritmos de cálculo discreto através dos computadores digitais.
Fui designado para fazer o
curso de operação do EAI-2000 nos Estados Unidos. Embora tivesse completo domínio de
programação desse tipo de simulador (tive uma cadeira específica na graduação
do IME), procurei me preparar para o curso.
Ficamos sabendo que já havia outro EAI-2000 no Rio de Janeiro. Ficava no CENPES e era de propriedade da Asea
Brown Bovery. Lá havia um enorme
laboratório onde era simulada a linha de transmissão da usina de Itaipú.
Quando eu estava para embarcar
para Nova York (minha primeira viagem ao exterior) encontrei, no aeroporto, um
Engenheiro da ABB que estava também indo para a EAI (Electronic Associates Inc.). Conversamos sobre o que cada um iria fazer lá
e ele me disse que haviam lhe dado a missão de comprar a parte digital do
sistema de simulação híbrida da EAI (computador analógico + computador digital). Acrescentou um comentário que me impactou. Ele disse que nunca ouvira falar de
computador analógico até receber a missão e que estava indo sem saber ao certo
o que encontraria. Ou seja, estava
completamente despreparado.
Nunca mais o vi mas não foi
surpresa saber, alguns anos depois, o resultado da missão. Fora adquirido um computador Gould
caríssimo. Como todo main-frame, fora
construído um prédio que o contivesse.
Entretanto, na hora de se conectar com o EAI-2000 para a tão sonhada
simulação híbrida, descobriu-se que havia uma restrição de que a distância
entre eles não poderia ser maior que 30 metros e era muito maior. Como o prédio já estava construído e o Gould
instalado, não seria possível executar a simulação híbrida. Resumindo, nunca funcionaram em conjunto
resultando em um enorme prejuízo (milhões de dólares) para o projeto.
Encontrei muitos casos semelhantes,
ao longo da minha carreira. Nem todos
geraram prejuízos tão grandes. Porém, em
todos os casos, ou o designado para a missão não estava preparado pra ela ou
não dava a mínima para a mesma (acho ainda pior). Em totalidade estavam muito interessados em passear e receber diárias.
No final da década de 80, já no
IAE, preparei uma técnica para ir receber um sensor inercial na França. Ela foi preterida por ser técnica (pediu
demissão por isso) e em seu lugar foi mandado um engenheiro que não fazia parte da equipe. Quando o mesmo retornou com o equipamento eu
lhe perguntei como fora os testes pois gostaria de repeti-los aqui. Ele não sabia de nada pois nem esteve
presente, apenas pegou um papel com os números do ensaio. Sua presença fora totalmente inútil para a instituição. Menos para ele que passeou basante, além de receber diárias. Ele aliou o despreparo ao desprezo por sua
tarefa.
Qualquer trabalho complexo de
alto nível é, necessariamente, feito em equipe. É fundamental estar preparado para todas as missões que somos designados. Somente assim podemos realmente absorver tecnologia. Se as pessoas que trabalham em uma organização não se preparam para as
tarefas que recebem ou as fazem de qualquer maneira, o resultado só pode ser o
fracasso. Estar preparado e ciente de
suas responsabilidades são características dos vencedores.
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