Serra Quebradiça
Mais um “causo” do nosso leitor Pesquisador Brasileiro.
No
início da minha vida de pesquisador fiz um estágio voluntário de seis meses num
hospital da universidade. Cheguei ao hospital para meu primeiro dia de trabalho
e duas horas para ser cadastrado depois, cheguei à minha sala e comecei a
trabalhar. Minha primeira atribuição foi fazer um levantamento de todos os
pontos de oxigênio do hospital e verificar quais estavam defeituosos. Trabalho
simples, mas meu gestor era um homem sábio. Em uma semana fazendo aquele
trabalho, eu conheci o hospital inteiro e boa parte das pessoas que trabalhavam
ali.
Meu
trabalho seguinte foi mais interessante. Levantar os equipamentos que mais
exigiram manutenção no hospital. E após outras duas semanas e um diagrama de
Paretto montado, foi constatado que 80% das falhas eram de um único tipo de
equipamento: as serras de gesso. Estranho, pois era um equipamento robusto.
Deslocamos uma equipe à sala de gesso e por coincidência, vimos um paciente
saindo e, na sequência, o técnico jogando uma das serras no chão, o que
obviamente, fez a serra quebrar. Ao perguntar o que havia acontecido, o técnico
meramente disse que ia fumar e saiu, nos deixando boquiabertos. Era início da
legislação Nº 9.294, DE 15 DE JULHO DE 1996, que dizia que não se podia fumar
em ambiente fechado.
Relatando
o caso ao meu gestor, tomamos ciência do caso. O técnico era irmão de um
diretor do hospital e um fumante inveterado. Usava de seu relacionamento com o
irmão para ser um “intocável” e quebrava os equipamentos propositadamente para
ter mais tempo para fumar em vez de fazer seu trabalho.
Como
já mencionei, meu gestor era um homem sábio. Ele chamou uma reunião em clima
mais amistoso possível com o técnico. Cafezinho, lanche e, claro, cigarros num
jardim do lado de fora do hospital. Ali um acordo foi forjado. Um depósito ao
lado da sala de gesso foi transformado em uma salinha com sofá e televisão,
frigobar, além de uma janela. Naquela sala, o técnico poderia fumar entre um
paciente e outro (com janela aberta) e não precisaria sair do hospital. Em
contrapartida, ele não quebraria mais as serras de gesso. Assim foi “resolvido”
o problema. As serras pararam de ser quebradas e ninguém podia fumar dentro do
hospital. Menos o técnico do gesso. Por muitas vezes vi isso acontecer.
Funcionários públicos terem que receber “agrados” para fazerem o próprio
trabalho, como se estivessem fazendo um grande favor e não sua mera obrigação.
Depois reclamamos que não
temos retorno dos nossos impostos em qualidade de serviço. Os gestores “sábios”
como o mencionado acima trata apenas o sintoma e nunca a causa. Somos obrigados a conviver com gente inescrupulosa
e desonesta que não dá a mínima para coisa pública. Precisamos passar o Brasil a limpo.
Verdade Dr. Waldemar, grande exemplo este, o problema é que a maioria não quer que isso aconteça e sequer identifica isso como um problema.
ResponderExcluirAbs
Duda Falcão
Sem comentários para um sujeito desses e seu irmão. O pior é pensar que muitas instituições públicas estão infestadas por gente desse tipo.
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