Viagem ao Exterior I
Conforme mencionado no post Despreparado, em 1983 fui designado para fazer o curso de operação do computador EAI-2000 nos Estados Unidos. Seria minha primeira viagem ao exterior e eu estava eufórico. Me preparei tanto tecnicamente como fiz aulas de reforço de inglês.
Então começaram as “diferenças”. Como eu não era funcionário do IPD e sim
contratado CLT através do projeto FINPEP / ATTMM, tinha que me virar
sozinho. Tive que tirar passaporte por mim
mesmo e era um passaporte de turista – embora fosse em missão de trabalho. A diária, naquela época, era US$ 111 que, para
os oficiais do IPD era paga em moeda americana (lembrando que, na ocasião, não
havia civis de nível superior no IPD). Para
mim, a diária foi paga em Cruzeiros e tive que procurar uma casa de câmbio para
comprar dólar. Naquela época, a
diferença entre o dólar oficial e o câmbio negro (era assim que era chamado)
era enorme. Resultado, levei comigo uma
diária de US$ 86. Só o hotel, que ficava
em frente da fábrica e não gastava com transporte, ficava em U$ 54 /dia. Mal sobraria para comer. Na minha inexperiência, corri o risco de
ficar sem nenhum recurso sequer para voltar.
Caso o montante de dinheiro que levei não fosse suficiente eu não tinha
a mínima ideia do que fazer, pois não tinha cartão de crédito. Seria um indigente nos Estados Unidos.
Tive sorte de que a EAI mandou
uma viatura me pegar no aeroporto de Nova York e me levar para Nova Jersey
(onde ficava a EAI Electronic Associates Inc.) de graça. Além disso, a empresa Contraves, que queria
vender uma mesa rotativa para o projeto, me convidou para visitar sua fábrica
em Pittsburg, com todas as despesas pagas.
Isso me economizou 3 diárias e mais o translado para o aeroporto. Verdadeiro milagre, conheci uma fábrica que
me trouxe grande ensinamento (até hoje uso esse conhecimento adquirido) e ainda
me permitiu voltar com alguns dólares no bolso.
É surpreendente como lembro
daquela primeira viagem como um total sucesso.
Em momento algum reclamei das dificuldades financeiras pelas quais eu
passava. Ganhava muito pouco e a viagem
não me trouxe nenhum benefício financeiro e, a meu ver, nem era para trazer. As circunstâncias não me trouxeram nenhum
constrangimento pois, julgava eu que, a viagem ao exterior se justificava pelo
aporte de tecnologia que traria e a oportunidade de aprender a se relacionar
com pessoas de outra cultura.
O que presenciei, nas décadas
que se seguiram, foi uma verdadeira corrida ao ouro em relação às viagens ao
exterior. Os “pesquisadores” lutam para
conseguir motivos que os permitam viajar.
Não para aprenderem, mas para passearem e ganharem muito dinheiro com
diárias. Criou-se até uma sigla cínica
PGV – Projeto Gerador de Viagens.
Vi pessoas irem fazer
pós-graduação no exterior e serem reprovados mas continuarem por lá, recebendo
diárias e passeando. Outros foram para
missão específica e não as cumpriram, mas nem por causa isso foram sequer
repreendidos. Não há pudor em passear
com dinheiro público sem trazer nenhum retorno técnico. Não é à toa que o programa Ciência sem
Fronteiras foi apelidado de Turismo sem Fronteiras.
Essa cultura está entranhada e
precisa ser modificada. Não acho que
deveria ser criada nenhuma lei para coibir isso. É uma questão de caráter, seriedade e cuidado
com a coisa pública. Falo de cultura
pois, como chefe, procurei não permitir viagens desnecessárias ou improdutivas
e fui muito mal visto por isso.
As situações de desonestidade (não encontrei outra palavra ) estão por toda parte no dia a dia profissional em empresas públicas e privadas, e é praticamente impossível passar ileso por elas — como vítima, testemunha ou sendo o próprio autor da atitude desrespeitosa.
ResponderExcluirUma boa ideia seria estabelecer um critério rigoroso nas empresas que, apoie a legalização de processos internos de viagens, e suas necessidades em todos os níveis.
E que permita além de identificar fraudes, tratar casos onde colaboradores com comportamentos nocivos amplamente praticados recebam as devidas e justas advertências pelo desrespeito.
Hadassa uma maneira simples e eficaz que encarar o problema é requerer um relatório de viagem detalhado. Depois que esse relatório seja realmente avaliado com seriedade. Se não for satisfatório ou o protagonista entra numa lista negra de não viajar mais ou recebe algum outro tipo de punição, desde advertência até a demissão
ExcluirFaz sentido.
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