Férias Forçadas

Esse episódio veio do leitor deste blog, que se identifica como “um pesquisador brasileiro”.  A história é completamente semelhante às vividas por mim.  Incentivo aos leitores que quiserem contribuir que mandem os seus “causos”.

A Universidade Pública Republicana dos Pinheirais (UPRP), sempre foi uma instituição média.  Não se destacava em muitas coisas, fosse para o mal ou para o bem.  Como universidade mediana, a maioria dos seus servidores também tendiam a ter comportamentos medianos.  Não eram totalmente incompetentes, mas não se destacavam.  O trabalho normalmente era feito de forma burocrática e sem grande eficiência.  Mesmo assim, a UPRP era uma instituição organizada e gozava de muitos “luxos” que outras universidades maiores não tinham, como papel higiênico nos banheiros e computadores renovados com relativa frequência.  E aqui chegamos à nossa história.

Pregões eletrônicos para aquisição de computadores eram rotineiros na UPRP e muitos computadores iam e vinham com frequência.  Nas ocasiões de um pregão de cerca de 100 computadores, um determinado servidor (aqui chamado de Antonielo), “emprestava” um computador para “trabalhar em casa”.  Antonielo era ligeiramente mais competente do que a média, então seu chefe (o diretor do setor) não se importava com seu “pequeno hábito inofensivo” (leia-se roubo).  Até que houve um pregão de quase 1.000 computadores para renovar todos os laboratórios de informática da UPRP em quatro campi.  Eles chegaram em lotes grandes, de mais de 200 por mês, ao ponto de lotar a sala do almoxarifado. Antonielo resolveu que 20 computadores não fariam falta e, num fim de semana, estacionou seu carro popular e iniciou sua empreitada de fazer caber os 20 PC’s em seu possante 1.0.

A operação foi tão caricata e grotesca que a segurança do Campus notou aquele veículo 1.0 parecendo um caminhão de mudança e veio questionar o ocorrido. Sem explicações plausíveis, Antonielo acabou deixando os computadores e desistindo da empreitada.  Só que havia um problema.  Fora aberto um boletim de ocorrência e havia filmagens do servidor carregando seu carro particular.

Escândalo à parte, o caso foi prontamente abafado por seu chefe, ao ponto de na segunda feira às 8 da manhã, foi conseguido para Antonielo uma licença, obviamente, remunerada para tratamento de depressão.  Antonielo respondeu administrativamente, mas como nenhum computador foi “emprestado”, o processo foi arquivado.  Também houve um processo criminal, mas os representantes da UPRP decidiram por não dar sequência e o desfecho do processo também foi o arquivamento.

Eu soube da íntegra desse caso durante as “férias forçadas” desse servidor. Pouco havia a fazer, mas conversando com os demais servidores daquela seção, todos estavam aliviados pela ausência daquele cidadão e apreensivos sobre como seria seu retorno. Me pergunto como ficavam os outros servidores ao saber que a punição por “emprestar” um bem público era 6 meses de férias remuneradas.

Como se pode ver a rapinagem é generalizada e sempre com o aval das chefias de diversos níveis.  Vou contar os diversos casos semelhantes, que vivenciei pessoalmente, em posts futuros.  Minha conclusão hoje é que todo funcionário honesto e sério que não queira ser conivente com a rapinagem deve, além de reportar formalmente à chefia imediata, fazer boletim de ocorrência na delegacia mais próxima.  Garanto que só ocorrerá uma vez.  Quando a luz se acende as baratas imediatamente desaparecem.

Comentários

  1. O pior é a conivência do chefe. Tem causos aqui que faria muito bem citar os nomes dos ilustres.

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  2. Boa tarde! Isso, e os outros causos provocam um certo sentimento de revolta, indignação e também de inconformismo. Parece que a falta de caráter e patriotismo fazem parte da natureza da maioria esmagadora dos brasileiros, pra não dizer do ser humano.
    Gostaria de saber como faço para entrar em contato com Dr Waldemar. Meu email é lboni2121@gmail.com

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  3. Prezado Luiz Carlos
    A idéia do blog é exatamente essa e descrita já no próprio cabeçalho. Mostrar à nação que existe uma cultura iníqua que precisa ser extirpada, motivando a mudança. É importante ressaltar que essa iniquidade está muito difundida mas não está na maioria do povo. As más ações chamam mais a atenção do que pequenas boas atitudes.
    O que quero com o blog é, depois da indignação e inconformismo, que venham as ações de saneamento e cura.
    Mande msg no seu e-mail.

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    1. Prezado Waldemar, crie um canal do youtube e faça vídeos contando o que está escrevendo no blog. Sua mensagem será divulgada para mais pessoas! Além disso, poderá até receber alguma remuneração.

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    2. Prezado Unknown, obrigado por sua sugestão. Não tenho nenhum interesse em remuneração mas gostaria que o máximo de pessoas tivessem conhecimento das minhas histórias para que haja alguma modificação em nossa cultura. Ainda não sei se devo fazer videos desses "causos" mas certamente continuarei escrevendo pois assim, talvez, possa fazer um livro com eles, deixando para as próximas gerações.
      Lembrando que nem todos aplaudem o que escrevo. Pessoas que praticam atos semelhantes aos descritos ficam furiosas.

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  4. Esse tipo de "empréstimo" ocorre também em meio corporativo. As pessoas pensam que material de escritório é pra ser levado pra casa... Houve um caso, que um cidadão assinou um aplicativo de rede social profissional, com o pretexto de facilitar o recrutamento - a empresa tinha RH e uma plataforma paga para este fim - passado o período de 1 mês de gratuidade, chegou a fatura de 1k. O comentário do cidadão, era q estava indignado por ter recebido a fatura nesse valor tão alto... e que iria pedir reembolso para a empresa, já que havia usado para fins de recrutamento e seleção....
    Percebendo q nada adiantaria argumentar, fingi demência...

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