AVALIAÇÃO – parte 1
Em fevereiro de 1980, logo após retorno das férias, procurei meu chefe imediato o Major Ábaco (nome fictício). Como eu havia completado meu primeiro ano de vida profissional, eu o procurei e pedi que fizesse uma avaliação do meu trabalho. Eu estava ansioso para avaliar meu progresso profissional e não vislumbrava outra maneira que não em ouvir o que o meu chefe achava de mim.
Sua resposta foi uma
surpresa. Ele disse simplesmente: “aqui
todos nós estamos subutilizados”. Fiquei
bastante frustrado pois não obtivera nenhuma informação que pudesse me ajudar a
me aperfeiçoar. Em vez disso, mostrou pelo
menos 3 coisas, que só fui entender muitos anos depois com a maturidade
profissional: 1 – não havia nenhum processo de avaliação formal; 2 – que estava
muito claro a inutilidade daquele setor; 3 – que Ábaco não estava interessado
em nada que não fosse ele mesmo.
Nos mais de 6 anos que passei
por lá nunca recebi uma avaliação de meu desempenho profissional, o que me
deixava bastante inquieto. Como os
funcionários estavam todos ligados a projetos.
O gerente do projeto é quem decidia quanto cada um deveria ganhar. Não havia nenhuma regra definida. Naquelas alturas eu já conseguia ter uma
autocrítica sobre minha conduta e também percebia outras formas de
avaliação.
Quando fui trabalhar no IAE
(1985) a mudança foi enorme. Naquela
época, existia um plano de carreira detalhado e bem feito. Havia também avaliações semestrais que
geravam uma pontuação que indicava se o funcionário poderia ser promovido,
ficar onde estava ou entrar numa possível lista de demissão. Isso era possível pois todos eram contratados
pela CLT. Era muito salutar.
Com a chegado do RJU (1990) e
a criação do plano de carreira para a Ciência e Tecnologia (1993) muita coisa
mudou. O número de níveis verticais
diminuiu e a progressão horizontal desapareceu.
As avaliações passaram a ser anuais.
Além disso, devido ao próprio RJU só haveria aumento para a tabela se
todas as tabelas fossem aumentadas na mesma proporção. Isso causou um congelamento nos valores da
tabela. A inflação fez o resto.
Para resolver a debandada
devido aos salários aviltantes foi usada a promoção como se fosse reajuste
salarial. Típica gambiarra onde a
solução de hoje torna-se o problema de amanhã.
Eu, por exemplo, fui para no topo da carreira 20 anos antes de me
aposentar. O que significa, que fiquei mais
de 20 anos sem promoção.
Tentou-se consertar a encrenca
criada pelo RJU através de gratificações (que serão alvo de posts
futuros). Criou-se também uma avaliação institucional. Isso implicava que os reajustes dos
funcionários, de uma determinada instituição, seriam ponderados pela nota da
mesma.
Para que houvesse o melhor
valor de reajuste para os funcionários, houve uma determinação da direção do
instituto para que a média de avaliação fosse sempre 8,5 e o desvio padrão 5%. Assim o funcionário mais bem avaliado seria
sempre nota 10 e o pior sempre nota 7.
Imediatamente me manifestei,
por escrito, contrário a essa determinação.
Na minha visão, isso seria uma manipulação das notas (que se tornaram
relativas) além da deturpação do conceito de avaliação. Fui completamente ignorado.
Criava-se, assim, uma cultura de que a avaliação era uma mera formalidade para definir reajustes. Além do mais, demissões estavam totalmente fora de questão. Só poderiam acontecer (e nunca mais vi acontecer) através de um processo administrativo-disciplinar.
Critérios verdadeiros de
desempenho são fundamentais para o aperfeiçoamento profissional de qualquer
um. Aumento salarial deveria ser a consequência
e não a causa da avaliação. Porque
dever-se-ia ter medo de avaliações?
No próximo post veremos a
conclusão dessa questão.
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