Férias Forçadas - O Retorno

 Esta história é a conclusão do episódio descrito no post Féria Forçadas, relatada pelo leitor deste blog, que prefere ser chamado de Um Pesquisador Brasileiro.


O post Férias Forçadas relata como um servidor da UPRP, aqui chamado de Antonielo, foi pego com a boca na botija roubando 2 dezenas de computadores e, como consequência, teve que tirar seis meses de férias (remuneradas) para tratamento de uma "depressão".

O ambiente na seção em que ele trabalhava foi da água para o vinho.  Os outros servidores trabalhavam com muito mais tranquilidade sem o risco de serem investigados pelos contínuos “empréstimos” de Antonielo ou serem forçados a delatar o colega.  A atitude de denúncia era vista com extrema má vontade pela chefia.

Durante os seis meses das férias de Antonielo, algumas coisas mudaram. O seu chefe direto tivera o mandato encerrado e o candidato da oposição vencera.  Até mesmo a seção mudara, tendo em vista que a ausência de Antonielo gerou um certo transtorno na seção, pois apesar de desonesto, ele era bastante trabalhador.  Assim, 3 novos servidores vieram para fazer o que antes ele fazia sozinho.

Como todos conheciam o caso, quando o servidor retornou, houve uma conversa informal com todos os servidores da seção sobre boas práticas no ambiente de trabalho, ética no serviço público, etc.  Antonielo também mudou da água para o vinho e, pelo tempo de serviço, passou a ser o chefe da seção.  Isso levou a outro problema. Todos os processos do setor passavam por sua assinatura, ainda que isso fosse apenas um clique no sistema eletrônico após uma breve revisão da papelada.  Antonielo, “por alguma razão desconhecida”, já não tinha mais o mesmo ímpeto para trabalhar.  Isso é uma forma elegante de dizer que os processos acumulavam em sua mesa aguardando o dia que ele tivesse a boa vontade de assiná-los.

Eu sempre tive alguma habilidade com pessoas difíceis.  Isso incluía lidar com o Antonielo.  Todos os meses eu precisava do “ok” dele para um processo meu.  Eu levava o processo à sala dele e literalmente ficava sentado à sua mesa pelo tempo que fosse necessário.  No primeiro mês, o vi jogar paciência por quase duas horas.  À medida que os meses foram passando, descobri que ele gostava de música e, puxando conversa sobre bandas antigas, acabei por cair nas graças dele e até conseguia ser atendido assim que chegava na sua sala. Outras pessoas que eu conhecia não tiveram a mesma sorte. Um colega que pedira transferência para outra cidade ficou três meses “no limbo”, pois já tinha se mudado, mas o processo estava na mesa do Antonielo paradinho, esperando o clique.

Na minha vida profissional tive a oportunidade de perceber que existem Antonielos também na iniciativa privada.  O que faz tais pessoas alcançarem cargos de chefia ?  . Eles sobem por competência e depois se tornam difíceis ou sobem pela mera ausência dos “bons”? Creio que nunca saberei.


O “causo” descrito mostra que caráter nada tem a ver com capacidade.  Antonielo era produtivo enquanto estava livre para roubar.  No momento que foi envergonhado por ter sido pego (apenas envergonhado quando deveria ter sido, no mínimo, demitido) passou a embromar acintosamente e ninguém fez nada.  Na minha visão, isso adoece todo o tecido social em volta.  “Quem poupa o lobo sacrifica o cordeiro” Vitor Hugo.

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