MISSÃO IMPOSSÍVEL
O IME tem uma grande porta de entrada central e duas laterais – essas de serviço, para entrada e saída de viaturas. Durante o período da graduação, fazíamos educação física 2 vezes por semana na parte de tarde e o vestiário ficava quase em frente a uma dessas portas. Acontece que era proibido o trânsito por aquela porta, embora fosse exatamente ela que nos colocava mais perto do ponto de ônibus.
Numa certa tarde, ao sair do
vestiário nos deparamos com tal o portão lateral aberto e não havia nenhuma guarda
à vista. Aproveitamos a oportunidade e
apressamos o passo e saímos rapidamente pela porta proibida. Por último e bem vagarosamente saiu nosso
colega Raul (hoje um construtor de sucesso nos Estados Unidos). Ele era egresso do colégio militar e parecia
que já estava acostumado com aqueles tipos de proibição.
Raul já estava a uns 50 metros
longe do portão quando veio um guarda correndo até ele. Ei! Ei! Gritou o guarda fazendo Raul parar
sua lenta caminhada com uma mochila (tipo um saco, comum naquele tempo) nas
costas.
O guarda, bastante sério,
dispara: É proibido sair por esse
portão! Raul, se fazendo de desentendido,
responde: é proibido sair? Sim, replica o guarda. E é permitido entrar? Questiona Raul. Também não! Brada o guarda. Ora, então não posso voltar, diz Raul
virando-lhe as costas e continuando sua lenta caminhada, deixando para trás o pobre
guarda com uma cara de quem estava tentando evitar que seus neurônios entrassem
em síncope. Ele havia se deparado com
uma missão impossível.
Nas minhas aulas, contei
muitas vezes esse episódio como uma piada com o uso da lógica. Entretanto eu a vi ocorrer outras vezes,
dentro da burocracia estatal, através de regras que acabam por dar um nó em si
mesmas.
Em uma certa época, órgãos de
financiamento de pesquisa (CNPq, FINEP etc.)
começaram a exigir que os institutos, daqueles que solicitavam uma
viagem ao exterior, assinassem um termo de autorização para que seu funcionário
fizesse a viagem proposta. Essa
autorização era condição para que o pedido de financiamento fosse julgado e, talvez, aprovado. Acontece que o meu Instituto também tinha
suas regras e só aceitaria autorizar o afastamento para uma viagem se o proponente
apresentasse a aprovação do financiamento.
Em outras palavras, só aprovo o financiamento se você tiver autorização
do seu instituto para viajar. O
instituto, por sua vez, responde: só autorizo a viajem se você aprovar o
financiamento. Pronto! Estamos diante de
outra missão impossível.
Certamente, você leitor deve
conhecer casos similares. Todos eles têm
em comum o fato de que o objetivo é prejudicado pelos meios criados exatamente
para alcançá-lo.
Raul alcançou seu objetivo de
ir para casa pelo caminho mais curto. Já
nós, pobres pesquisadores, continuamos lutando por objetivos mais nobres do que
drenar energia para resolver essas missões impossíveis.
Grande parte dos problemas no Brasil são as leis criadas para inibir os desonestos.
ResponderExcluirIsso gera burocracia para ser resolvida por todos, quer dizer, por causa de um todos pagam.
A lei por si não basta para coibir o ilícito, mas sim, a certeza da punição.
Certamente, Raul ao ver sobre um gramado uma placa escrita "Aquele que passar por aqui será expulso." deve gerar mais efeito que um muro de 3 metros com uma placa de "Proibido pular."