MAU BRASILEIRO

 Pelo meio da década de 80 ainda não tínhamos um sistema bancário informatizado como temos hoje.  Tudo era resolvido nos “caixas” através de filas que tomavam um tempo enorme. 

Como eu já mencionei antes, o CTA funcionava como uma minicidade independente com suas próprias agências bancárias dentro de seu campus (na época haviam 4).  A maior agência era a do Banco do Brasil onde eu tinha minha conta.  O fato de ser exclusiva dos funcionários e moradores do CTA, não a eximia de desgastar seus correntistas com filas enormes.  Evidentemente, o tamanho da fila dependia do dia em que acontecia – se havia algum pagamento ou outro evento específico.

Não lembro o que tive que fazer naquele dia no BB.  O fato é que a fila estava quilométrica.  Sempre me inquieto muito nessas horas não apenas devido ao tempo que se irá perder ali mas, principalmente, devido a um fenômeno social horrível – o fura fila. 

Estava eu pacientemente em pé, do lado de fora do prédio (pra se ter idéia do tamanha da fila) quando passa por mim um homem acintosamente com um cheque na mão, à procura de alguém para pegar o cheque em seu lugar.  Minha reação foi instantânea.  Saí da fila e o fui seguindo discretamente.  Quando já estava na porta do banco encontrou um amigo e lhe estendeu a mão com o cheque para que ele o pegasse.  Nesse momento eu segurei o punho dele e lhe disse calmamente:  amigo aqui todos nós estamos perdendo nosso tempo, respeite isso e vá lá para o fim da fila.

O homem ficou atônito – paralisado sem saber o que fazer.  Após alguns segundos, parecendo voltar a si e ainda com o cheque em punho, ele exclamou indignado:  ora sou brasileiro, estou dando o meu jeito, você não é brasileiro não ?  Não deixei barato e repliquei já com a voz alterada:  Você é um mau brasileiro !  Vá lá para o final da fila !

Nesse momento eu já havia conseguido a atenção de todos em volta e o amigo dele ficou estático sem coragem para pegar o cheque nem dizer uma única palavra.  Diante da situação, o mau brasileiro saiu fumegando de raiva indo embora, se recusando a ir para a fila.

Ele era bem mais baixo do que eu e pensei que se fosse grande talvez tivesse querido me agredir por tê-lo feito passar aquele constrangimento.  Na cabeça dele, constrangimento era ser impedido de fazer algo errado e sem cidadania, e não o fato ser um cretino cínico.

Não sei se ele aprendeu alguma lição com isso mas ela lhe foi dada.  Não teremos uma sociedade séria e próspera quando os cidadãos acharem normal passar os outros para trás.  Se quisermos ser bons brasileiros devemos seguir as palavras de Jesus: “Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles”

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