SOPRO CARDÍACO
Em meu primeiro dia no IAE, além de ter sido apresentado a alguns colegas, fui fazer exames médicos admissionais. O CTA era uma pequena cidade dentro da cidade de São José dos Campos. Mantinha dentro de seu campus praticamente todas as atividades necessárias à vida cotidiana, inclusive um centro médico, onde fui fazer os exames.
De forma objetiva, preenchi um questionário sobre minha
saúde, fiz exame de sangue, tirei um raio-x do pulmão (falava-se tirar uma
chapa do pulmão) e mediram minha pressão.
Voltei para o IAE e trabalhei normalmente aquela semana, aguardando a
sexta-feira para voltar para o Rio (minha família só mudaria em 1 de junho).
Entretanto, na quinta-feira, a secretária me avisou que
eu deveria voltar ao setor de saúde para maiores exames. Isso me deixou perplexo e preocupado. O que descobriram nos meus exames ? Que problemas eu teria que não sabia ? Será que isso poderia impedir minha
contratação ?
Na sexta-feira, logo pela manhã, me apresentei no posto
médico e me mandaram para uma sala de espera.
Logo veio uma enfermeira e me conduziu para fazer um eletrocardiograma. Alguns minutos depois, surge na sala um
médico (que vou chamar de Dr. Freud) com o registro do meu eletrocardiograma na
mão (na época era uma tirinha de papel termo sensível). Ele se dirige para mim e fala: de fato, como
era esperado está confirmado, o senhor tem um sopro cardíaco! Mantive a calma e argumentei: Doutor, o senhor falou que era esperado? Esperado por quê ? Não falei com nenhum cardiologista nem fiz
nenhum exame anterior. Por que eu tive
que fazer um eletrocardiograma?
Freud me sai com uma resposta inesperada: Está escrito aqui em seu prontuário, senhor
Francisco de Oliveira!!! Então
protestei: Doutor, meu nome é
Waldemar!!! Nesse exato momento o
alto-falante, instalado naquela sala, anuncia: Waldemar de Castro Leite, sala
3. Eu apontei para o alto-falante e
disse? Esse aí sou eu.
Freud meio confuso disse: então tudo bem e ia virando
as costas para se retirar. Eu o interrompi
e falei: tudo bem não doutor. O senhor disse que eu tinha um sopro
cardíaco. Agora eu quero saber. Tenho ou
não tenho? Freud simplesmente virou as
coisas dizendo: Isso não é nada. Esqueça isso.
Felizmente o dia terminou bem pois o assunto verdadeiro
era sobre labirintite que eu havia escrito no questionário. Mas o episódio foi mais do que
pitoresco. Errar no atendimento dentro
de um consultório, cheio de gente, e controlado por prancheta e lápis é compreensível. O que não é compreensível
nem aceitável é que o resultado de um exame dependa do nome do paciente. Se fosse o Francisco o exame indicava sopro
cardíaco mas para o Waldemar não era nada. Como assim?
Está certo que medicina não é uma ciência exata mas aquilo
foi ridículo. Fiquei um tanto
desconfiado com a qualidade dos médicos dali.
Felizmente, só fui precisar de atendimento de emergência 9 anos depois e
fui muito bem atendido.
Certamente não pelo Dr. Freud, pois esse ninguém
explica.
Kk "Sopraram" errado para o Dr. Freud.
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