COTAS

 Esse post é para explicar a ojeriza que me causa a palavra cota.  Não no sentido de uma parte de um todo que cabe a um indivíduo fazer e que dependa apenas do seu esforço próprio, uma meta (exemplo: produzir a cota de parafusos do dia) mas quando isso envolve outras circunstâncias, alheias ao próprio significado da cota.

Quando estava no IME, um colega meu de turma, capitão do exército, sujeito brilhante, me contou como ele fora parar lá.  Estava servindo em um quartel e foi chamado pelo seu superior que lhe passou uma cota de punição para os soldados.  Ele deveria escolher um certo número de soldados e puni-los.  Isso manteria a tropa disciplinada, argumentou o chefe.  Meu colega se recusou a fazer tal descalabro e, em função disso, foi transferido para tomar conta da biblioteca.  O que ele fez ?  Aproveitou a oportunidade para estudar e passou para o IME onde se formou como primeiro aluno de sua arma.

Alguns anos depois conheci um soldado da PM que vou chamar de Pafúncio.  Pafúncio estava servindo no batalhão de trânsito e era um cara alegre que todos gostavam dele onde ele realizava seu trabalho de fiscalização.  Entretanto, foi chamado pelo seu superior que reclamou que ele não estava cumprindo a cota de multas.  Ele deveria apresentar um certo número de multas e, mesmo que elas não tivessem acontecido, ele deveria inventá-las.

Pafúncio não gostou da exigência mas tomou uma atitude pró-ativa.  Como trabalhava próximo à câmara municipal, foi até lá e multou todos os carros dos vereadores que estavam parados de forma irregular.  Foi transferido para uma atividade interna e nunca mais voltou para as ruas.  Como diria o famoso Capitão Nascimento (Tropa de Elite), Pafúncio usou o sistema contra o próprio sistema.

Esses foram exemplos de cotas negativas.  Existiriam cotas positivas? Atualmente vemos uma enorme discussão sobre cotas.  Para entrar em faculdade, para arrumar emprego, para receber uma bolsa (de estudos ou de algum auxílio) – cota para tudo, seja por motivo racial, econômico, sexual, deficiência física etc.  Independente dos motivos alegados (justificados ou não) para a criação de tais cotas, estas geram uma enorme distorção, uma verdadeira fábrica de estelionatários.  Pessoas que se autodeclaram possuir os requisitos para sua obtenção a tal benefício (sim benefício pois nunca vi solicitarem alguma cota de sacrifício), sem as possuírem.  Prejudicados são aqueles que eventualmente fariam jus ao benefício.  Prejudicados são todos os que se esforçam para alcançar um objetivo e são substituídos pelos cotistas.  Ou ainda pior quando não havendo os elementos de preenchimento da cota, são inventados.  

Nem vou citar exemplos, pois são tantos, que em vez de post seria um livro. Claramente os estragos são maiores que os possíveis benefícios.  A impressão que tenho é que essas cotas, em vez de trazer algum tipo de justiça, na verdade acaba estimulando um lado vil da natureza humana.

A última idiotice que ouvi a esse respeito foi numa conversa com um sujeito muito religioso que disse considerar um erro as pessoas orarem a Deus pedindo algum tipo de benção para si.  Se Deus é justo, disse ele, deveria abençoar a todos igualmente e não apenas aquele que pede.

Imediatamente respondi: você tem toda razão, deveria haver cota pra benção e bolsa milagre!!!  Minha cota de paciência com idiotice é zero.

Comentários

  1. Esse Pafúncio é um gênio!
    Para cotas de acesso às universidades federais serem justas, seria necessário um sistema de avaliação tão elaborado, que seria inviável existir.
    Como o caso dos pais que matriculam os filhos na rede pública mas pagam as aulas nas redes privada.

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