JEITO CERTO
Os 3 primeiros anos no IAE foram mágicos. Embora o salário fosse ainda baixo (mesmo 60% maior que o anterior) a motivação era incrível. Não apenas porque estava trabalhando em um assunto interessante e que eu gostava mas porque estava sendo feito do jeito certo. Eu diria que a mudança não era da água para o vinho, se parecia mais como do barro para o ouro.
Não estou dizendo que não haviam problemas – já descrevi alguns em posts
anteriores – mas tratavam-se de falhas pessoais ou mesmos burocráticas (praga
que atinge a toda a sociedade). Estou
dizendo que estávamos estruturados para atingir um objetivo proposto e
perseguíamos esse objetivo. Havia uma organização
claramente definida em suas atribuições e metas e todos trabalhavam em prol do
objetivo comum.
As pessoas estavam tão envolvidas no que faziam que era comum ficar até
bem depois do fim do expediente sem se perceber que a hora de ir pra casa havia
chegado. Foi, de fato, um tempo muito
especial.
Tivemos lançamentos de foguetes controlados em 1985 (ano em que cheguei),
1987 e 1989. A análise dos resultados
dos voos e a preparação do voo seguinte tomavam quase que todo o nosso tempo.
Para mim foi uma escola e tanto.
Aprendi como se deve conduzir um grande projeto de pesquisa e
desenvolvimento – coisa que não tinha a mínima ideia antes, nem meus chefes do
passado.
É importante frisar isso porque só assim é que se percebe como a
situação foi sendo, paulatinamente modificada, transformada e deteriorada até
alcançarmos a total insignificância e não produzir mais nada. Em outras palavras, é preciso saber o jeito
certo para diagnosticar e corrigir o jeito errado.
A partir de 1989, eu ia percebendo que algo estava se modificando. Nem sempre entendia bem o que nem porque mas
percebia e alertava meus chefes. Quando
tinha a oportunidade alertava a chefia mais alta, mas raramente era ouvido.
Com a chegada do Regime Jurídico Único, passou-se a confundir o conceito
de isonomia
= condição das pessoas que são governadas pelas
mesmas leis, com Isonomia = condição em
que há igualdade, ausência de diferenças. Ora todos nós somos diferentes. Negar isso é negar a própria essência da
individualidade. Esse conceito
equivocado de isonomia iguala o inepto ao produtivo; o vagabundo ao
empreendedor. Considera a todos como
farinha do mesmo saco e o resultado final é a ineficiência progressiva.
Uma instituição séria não é aquela que não tem problemas, pois essa não
existe. Instituição séria é a que zela
por sua seriedade mais do que por sua própria imagem. É a que possui mecanismos justos e eficazes
para corrigir os erros e os desvios, punir e remover os infratores. Em outras palavras, possui um processo de
cura interna. Se mecanismos legais
impedem esse processo, tal instituição está fadada à ruína.
“O certo é o certo, mesmo que ninguém esteja fazendo. O errado é errado mesmo que todos estejam
fazendo”.
Comentários
Postar um comentário