BURRO FALANTE
Num reino nada distante, seu Rei desejava ver o reino deixar de ser um reino do futuro para se tornar um reino que lhe desse orgulho. Então, um certo espertalhão chamado Falaz, sabendo do desejo do Rei, se apresentou com a seguinte proposta: se o Rei lhe desse um saco de moedas de ouro, ele ensinaria um burro a falar e o Reino se tornaria notório por isso. A idéia muito agradou ao tolo Rei que lhe providenciou o burro e o saco de moedas de ouro.
Saiu Falaz do palácio, feliz da vida, com o burro carregando em suas
costas o saco de moedas de ouro. Foi
quando Falaz encontrou-se com um conhecido chamado Consciência, que sabendo da
tramoia o confrontou: você ficou louco Falaz?
Ninguém é capaz de ensinar um burro a falar pois burros não falam. Como você foi propor tal coisa ao Rei ?
A resposta de Falaz foi muito elucidativa: Calma Consciência. Eu pedi 15 anos para ensinar o burro a
falar. Em 15 anos ou o Rei já morreu, ou
o burro já morreu ou eu já morri. Não
haverá cobranças nem consequências.
Já não lembro quando ouvi essa fábula pela primeira vez. Acontece que, durante minha carreira, eu vi
acontecer diante dos meus olhos, diversas situações que se enquadram
perfeitamente nela. Por isso vivo repetindo-a.
A quantidade de pessoas e instituições que prometem fazer um burro falar
em troca de recursos financeiros é enorme.
Assim como Falaz, não temem as consequências. Jamais serão cobrados pelo engodo. Se propõem a algum objetivo que não pretendem
ou não podem alcançar. Usam isso como
argumento para conseguirem os recursos financeiros.
Como justificativa de não produzirem um burro falante apresentam,
via de regra, as mesmas desculpas: faltou verba; falta gente (que nunca é suficiente)
ou que precisam de mais tempo. Enquanto
isso, o Rei já morreu ou o burro já morreu.
Faz alguns anos, encontrei a pró-Reitora de pesquisa de uma das maiores
Universidades Federais do país. Ela me
falou como estava desiludida com os pesquisadores de sua universidade que
propunham uma grande quantidade de projetos falsos. Dividiam um mesmo projeto em subconjuntos
para receber mais recursos. Apresentavam
relatórios sem conteúdo, onde se via claramente o copy and paste de outros textos e nunca chegavam ao fim de
nada.
Contei-lhe, então, a fábula do burro falante. Ela riu e disse que estava diante de uma tropa
(manada) deles.
Não basta ter boa conversa (os espertalhões são especialistas nisso) em
apresentar suas ideias. A credibilidade
deve advir das realizações concretas. A
competência ter que ser medida pelo sucesso em realizações. É essa métrica, o sucesso, é que deve abrir
portas e não as promessas ou as amizades.
As instituições financiadoras de pesquisa do país precisam encontrar um
caminho que lhes permita identificar os Falazes para impedi-los de se
locupletar dos recursos públicos ou puni-los quando os mesmos conseguem pôr as
mãos no dinheiro e não apresentam os resultados esperados.
Ou isso ou continuaremos esperando o burro falar.
Outro dia, eu (ex bolsista) e mais um colega ainda bolsista, defendíamos a pesquisa e a ciência, enquanto outro falava absurdos e inverdades sobre o tema.... como bons pesquisadores, encontramos o nome do fulano como bolsista de uma das instituições, sem nunca, ter proposto um único artigo ou tese pra defesa...
ResponderExcluirNuma discussão há alguns dias, perguntamos o pq de tanto ódio da instituição que o provia com bolsa pesquisa...
O indivíduo fez cara de esfinge e nunca mais mencionou uma só palavra a respeito.
Está cheio de espertalhões por aí.
Diane, conforme mencionei no meu post "gênese do poder" os maiores cretinos que encontrei ao longo da minha carreira eram todos pós-graduados. escondendo-se sob a égide do nome de cientistas/pesquisadores, não passam de embusteiros e canalhas.
ExcluirÉ realmente muito triste e desmotivante quando nos deparamos com Reis que enganados se deixam levar por promessas impossíveis de “Falazes” dos mais variados tipos que se
ResponderExcluirMultiplicam por aí feito um vírus altamente contagioso e fatal. ( aproveitando momento pandemia ).