Incompetência Destruidora

 A partir de 1989 já não era possível a contratação de funcionários CLT como se fazia anteriormente.  Então, o IAE conseguiu uma verba que permitia a contração por prazo determinado – renovável.  Havia todo um processo burocrático para isso, obviamente.  Em um primeiro momento, eu contratei um engenheiro para trabalhar no meu grupo.  Ele gostou bastante do trabalho e quando soube que eu estava precisando de alguém para trabalhar com software (no lugar do Cristaldo, lembram dele ?) ele indicou um colega.

Esse rapaz, que chamarei de Romildo, se apresentou a mim e fiz uma entrevista com ele.  Ele tinha as qualidades necessárias para o cargo e foi aprovado.  Graças a Deus, tive o cuidado de avisá-lo que minha aprovação era do ponto de vista técnico e que sua contratação seria responsabilidade de setor administrativo, que havia sido criado especificamente para esse fim.

Pois bem, aí começa o pesadelo de Romildo.  Ele se dirigiu à secretária que era responsável pelo processo de contratação – vou chamá-la de Trifosa.  Trifosa lhe disse quanto iria ganhar, quais seriam suas obrigações e lhe passou uma lista de documentos que ele deveria trazer, para que o contrato fosse assinado.

Dentre esses documentos exigidos estava a carteira de trabalho, já dada baixa do emprego anterior.  Romildo questionou esse fato, já que ele estava empregado em uma empresa de Campinas.  Como ele poderia pedir demissão e dar baixa na carteira sem a certeza de um contrato assinado?  A resposta foi simples e seca: se não trouxer, o contrato não poderá ser assinado.

Romildo, jovem ainda e sem conhecer o veneno da burocracia estatal, voltou para a cidade de Campinas onde morava e pediu demissão, conseguiu contornar o aviso prévio, deu baixa na carteira e se apresentou no IAE com toda a documentação exigida por Trifosa.

Trifosa pegou toda a papelada e levou para o Coronel responsável pela assinatura do contrato.  Pouco depois ela volta e lhe diz tranquilamente: o Coronel disse que só está contratando engenheiros.  Romildo tinha o curso de Ciência da Computação e, portanto, estava de fora. 

Romildo ficou sem chão e reclamou com Trifosa, pelo fato dela ter-lhe exigido que desse baixa na carteira de trabalho.  Agora ele estava desempregado e, em breve, sem onde morar pois havia entregue o apartamento em Campinas, enquanto procurava outro em São José dos Campos.  Trifosa manteve a pose e na maior calma e disse: você se precipitou.

Isso enfureceu Romildo que disse que queria falar com o diretor do Instituto, o que não lhe foi permitido. Afinal ele não achava ter sido precipitado e sim enganado por uma incompetente que, não sabia das condições de contratação e fazia exigências descabidas.  

Quando eu soube do ocorrido, procurei o meu chefe para denunciar a incompetência destruidora de Trifosa.  Ele levou a queixa à direção do IAE.  Quando o fato chegou até Trifosa ela ficou ensandecida.  Disse que era uma pessoa extremamente competente e responsável.

A conclusão desse episódio deplorável é que nada aconteceu com Trifosa e Romildo voltou a morar com seus pais numa cidade vizinha.  Seu amigo, que o havia convidado, ficou tão envergonhado com o acontecido que, assim que seu contrato de um ano terminou, ele não quis renovar e foi embora.

Será que Trifosa teve algum remorso pelo que fez ?  Será que, em algum momento, ela parou para se perguntar se havia feito algo de errado ?  Mais lamentável do que fatos, como o descrito, ocorrerem é ver a total impunidade dos responsáveis pela sua ocorrência.  Talvez seja por isso que continuem acontecendo.  A sensação de injustiça é muito grande.

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