ASSERTIVIDADE

Após meu retorno à chefia da subdivisão de controle, eu tinha que tomar uma posição de como me comportar na presença de Kruger.  Eu sabia que ele deveria estar como um animal ferido, esperando para dar o troco.  Mas eu não podia deixar que isso me tirasse o foco no trabalho. 

No segundo semestre de 1989 e em todo o ano de 1990 ocorreram muitas reuniões.  Havia uma efervescência muito grande.  Discutia-se o resultado do voo do quarto protótipo do Sonda IV bem como se faziam os planos para o lançamento do quinto protótipo (que acabou sendo cancelado).  Ao mesmo tempo se iniciavam os estudos do VLS (agora pra valer).

Também iniciou-se uma reestruturação no IAE, preparando para a fusão com o IPD (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento).  Isso, levou a subdivisão de controle para a recém criada divisão de Sistemas Espaciais.  Kruger continuou na mesma divisão que passaria a ser divisão de Eletrônica.

Mesmo em divisões diferentes, Kruger participava da maioria das reuniões sobre o Sonda IV e VLS.  Nessas reuniões ele pouco falava e a interação comigo era mínima.  Isso criava uma expectativa bem ruim.  Eu o via como uma cobra toda enroscada pronta para dar o bote, mas não sabia se era coisa da minha cabeça.  Assim eu precisava saber como me comportar.  Por incrível que possa parecer, no longo prazo, essa situação acabou me ajudando.  Desenvolvi uma assertividade que não tinha antes.

Durante as reuniões, eu fazia questão de falar para o grupo e nunca olhar para ele.  Não era com ele que eu estava falando.  Ao mesmo tempo, todas as vezes que ele falava eu lhe prestava muita atenção e sempre buscava dar alguma contribuição ao que ele estava colocando.  Em momento algum fiz qualquer crítica pessoal a ele ou trouxe à tona os problemas anteriores.  Mantinha objetividade total ao assunto em pauta.

Assim, busquei um equilíbrio fundamental para o bom andamento do trabalho, sem levar pra o lado pessoal (que eu sabia que existia).  Nunca busquei qualquer tipo de reparação ou vingança. 

Eu achava que a situação estava resolvida.  Ledo engano.  Essa trégua durou até 1991, quando os ataques voltaram agora de forma sorrateira.  Eu demorei muito até perceber o porquê do retorno às críticas e acusações.  Giovani, que era até então o chefe de Kruger, havia deixado o IAE.

Hoje percebo que Giovani foi uma espécie de anjo da guarda que, de alguma forma, impedia as ações de Kruger contra mim.

Muito embora fosse sempre uma grande chateação, as acusações de Kruger nunca tiveram nenhuma repercussão.  Minha postura assertiva gerou muitos frutos.  Meus colegas de trabalho me respeitavam e confiavam no meu trabalho.  Já Kruger foi paulatinamente sendo recolhido à sua insignificância.

“A sabedoria em lidar com pessoas difíceis não está necessariamente na maneira como essas pessoas são ou agem.  Mas sim na maneira como reagimos a elas”.  

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