MILAGRE – Epílogo

O lançamento do V04 do Sonda IV havia trazido muita apreensão, dado ao grande número de novidades que estavam sendo testadas simultaneamente.  Eu havia chamado a atenção da gerência do projeto de que haviam determinados riscos.  Depois que mudei de divisão, eu havia avisado ao Coronel Chaves (meu novo chefe) sobre esses riscos (que de fato acabaram acontecendo no voo).

Parece que isso serviu de argumento para que Stuart reclamasse que eu estava interferindo no trabalho dele.  Não estava.  Não fiz nenhuma crítica ao grupo de controle.  Minhas observações diziam respeito ao veículo como um todo e não ao projeto do sistema de controle.

Stuart se juntou a Kruger para levantar acusações ridículas ao meu respeito.  Hoje penso que seria uma cortina de fumaça para esconder o verdadeiro problema que era a apresentação dos documentos de sua missão no exterior. 

A tensão entre Stuart e Giovani se agravaram tanto que Stuart decidiu deixar o IAE se transferindo para outro instituto e nunca mais voltou.  Foi aí que as coisas se complicaram para Kruger. 

Giovani anunciou que iria me levar de volta para a divisão e Kruger, então, deu um chilique.  Primeiro se ofereceu para chefiar a subdivisão de controle.  Verdadeira piada, já que ele nada entendia do assunto (vide post equações inúteis).  Como não foi aceito, ameaçou deixar o IAE caso eu retornasse. 

Essa chantagem emocional não sensibilizou Giovani que lhe disse que tomasse a atitude que quisesse mas que sua decisão estava tomada.  No dia 19 de junho de 1989, 9 meses após ter deixado a chefia da subdivisão de controle, retornei ao cargo.

O que aconteceu depois será objeto de futuros posts.  Por hora posso dizer que aqueles 9 meses mudaram o rumo da minha carreira.  O que aconteceu foi um verdadeiro milagre.  Uma sequência de eventos, sem nenhuma participação ou interferência de minha parte, mudaram totalmente a situação a meu favor.

Giovani foi o instrumento de justiça que protagonizou todo esse episódio.  Pena que ele não pode ver o fruto de seu trabalho.  Dois anos depois, após ter sido preterido pela direção, deixou o IAE indo para outro instituto, de onde mais tarde se aposentou.

Na mesma época Kruger mudou-se para outro setor do IAE e continuou suas investidas contra minha pessoa por mais de 10 anos.  Um verdadeiro espinho na carne.  Nunca entendi essa obsessão dele contra mim.  Talvez devido à derrota de suas atitudes para comigo e de minha postura ao confrontá-lo. Contudo, a partir desse episódio suas maldades se tornaram inócuas. 

Aquele período de 9 meses não foi simplesmente um desterro e tempos de angústia e humilhação.  De fato, foi uma verdadeira benção.  Nele pude retomar minha tese de doutorado e fazer um primeiro esboço do texto completo.  Estabeleci novos contatos profissionais que me ajudaram muito nos anos seguintes.  Por fim, me trouxe maturidade e me deixaram mais confiantes na providência divina que diz que “todas as coisas cooperam juntamente para o bem dos que amam a Deus”.  Sou testemunha viva dessa verdade.

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