URGENTE
Quem já não recebeu um encaminhamento com a etiqueta de URGENTE ? Deveria significar que aquele documento ou tarefa deveria receber uma atenção especial, pois o assunto requeria urgência. Entretanto, devido a circulação de uma enorme quantidade de tarefas / encaminhamentos inúteis, começou-se a usar a etiqueta de urgente para que as pessoas levassem à sério essas solicitações, que de outra forma seriam ignoradas.
Pois bem, em um belo dia eu recebi um encaminhamento com a famigerada
etiqueta de URGENTE. O assunto era:
declaração de religião. Junto com o
pedido de eu fizesse o levantamento da religião de todos os meus subalternos,
veio junto uma listagem de computador (formulário contínuo de 132 colunas) que
deveria ter mais de mil nomes de religiões.
Eu deveria fazer circular aquela listagem entre meus colegas para que
declarassem qual daquelas religiões eles professavam.
Fiquei indignado com tamanho desperdício de tempo e papel que seriam necessários
para atender a tal demanda que, a meu ver, não tinha nenhuma urgência. A etiqueta estava lá apenas para intimidar as
pessoas a fazer o que se estava pedindo.
O tal encaminhamento havia sido feito pelo Ambrósio (nome fictício) que
será protagonista de outro post mais adiante.
Tomei a atitude que tal idiotice requeria. Tomei o calhamaço que era o formulário,
juntamente com a folha de encaminhamento e guardei na gaveta de baixo de minha
escrivaninha e a deixei lá. Se aquilo fosse
importante, alguém viria atrás.
Mais de um ano depois desse dia, eu encontrei casualmente o
Ambrósio. Ao vê-lo lembrei-me do tal
pedido urgente que eu havia dado sumiço. Então, me dirigindo a ele, perguntei: Ambrósio como ficou aquela história de
declarar a religião? Ele respondeu com firmeza: Encaminhei tudo pra frente e nunca mais tive
notícia !!!
Ou seja, era tão importante que ninguém notou a ausência de toda uma subdivisão
e não fez nenhuma falta. Como eu
imaginava, era totalmente inútil. Voltei
para minha sala, peguei a papelada que ainda jazia no fundo da gaveta, piquei
em muitos pedaços e joguei no lixo.
Quanto coisa inútil eu me via obrigado a fazer, mas aquela eu não
fiz. De uma certa forma eu me senti
vingado.
É curioso como a burocracia, mesmo sabendo que as pessoas percebem sua
ineficácia, em vez de buscarem aperfeiçoamento no sentido de serem mais
objetivos e menos improdutivos buscam meio de se impor. Utilizar um meio com outra finalidade é muito
comum, como no caso da etiqueta URGENTE.
Urgente mesmo é dar uma basta nessas atitudes estúpidas e que só servem
como um tipo de terapia ocupacional de inúteis.
Tratando especificamente deste caso, o ideal era que todas as tarefas deveriam receber uma data limite de resolução, ou no caso de algo intangível, uma justificativa apontando os motivos do atraso e possíveis soluções.
ResponderExcluirMas agora ficou a dúvida, qual foi o ser humano capaz de listar todas as religiões?