ERRAR É HUMANO
Toda viagem para o exterior exigia um preparo prévio, especialmente no que dizia a liberação do passaporte de serviço. Era necessária uma portaria que autorizasse a viagem e definisse quem arcaria com os custos. Evidentemente isso requeria que a solicitação fosse feita como uma certa antecedência.
Muito embora fosse uma tarefa razoavelmente simples e repetitiva
requeria que se respeitasse prazos. Aí
começa o problema. A incumbência era do
Eustáquio (nome fictício) que frequentemente perdia os prazos e era a maior
correria e tensão para que a viagem ocorresse.
Isso quando não se perdia a missão.
Chegou a um ponto de que eu havia enviado toda a documentação necessária
e com a antecedência mais do que suficiente para uma viagem a um congresso no
exterior quando Eustáquio ligou para a secretária perguntando se a viagem não
poderia ser transferida para o mês seguinte.
Eu estava na sala da secretaria naquele momento e respondi: não há
nenhum problema, é só avisar às centenas de participantes do congresso que ele
será transferido porque o Eustáquio não conseguiu a liberação do passaporte.
A partir daí eu procurei entender o que realmente estava
acontecendo. Seria a burocracia tão
esquisita que não se conseguia algo tão corriqueiro. Na próxima viagem eu fui pessoalmente entregar
o passaporte nas mãos de Eustáquio (para que fosse revalidado) e o alertei que
estava entregando com um mês de antecedência.
Ele respondeu: “Ah é cedo. Tem tempo”.
Novamente, foi o mesmo estresse e a portaria saiu um dia antes do
embarque.
Finalmente eu percebi que o problema não era a burocracia. Simplesmente, Eustáquio perdia os prazos
porque não encaminhava os documentos, deixando tudo para a última hora. Não era incompetência, era sacanagem
mesmo. Isso me deixou furioso e reclamei
com o chefe dele o que estava acontecendo.
Com o avanço da tecnologia, o formulário que antes era preenchido a mão
passou a ser feito de forma digital e encaminhado por e-mail. Passado um tempo, recebi um e-mail do Eustáquio
com um formulário para ser preenchido.
Achei estranho pois todas as informações que eram pedidas já eram do
conhecimento dele (como meu nome e cargo) mas preenchi assim mesmo e
devolvi. No dia seguinte recebi outra
mensagem solicitando que eu fizesse a mesma coisa novamente só que em outro
formulário, pois ele havia me encaminhado o formulário errado. A mensagem era muito educada e terminava com:
errar é humano.
Eu estava farto daquilo é respondi incontinenti: errar é humano e
consertar o erro é sua obrigação. Ora essa,
ele que preenchesse a nova planilha.
Porque eu é quem deveria consertar o erro dele.
Falei com meu chefe sobre o que estava acontecendo e ele, pra minha
surpresa, pediu a secretária que preenchesse o formulário, para não ter
problemas com o setor de pessoal.
A partir daí Eustáquio passou a me tratar uma atenção surpreendente –
parecia que ele havia tido alguma conversão espiritual – não tive mais
problemas.
Após minha aposentadoria, eu estava em um congresso na Finlândia e soube
que um ex-colega de trabalho estaria apresentando um trabalho lá também. Qual não foi minha surpresa de receber uma
mensagem dele pedindo que eu apresentasse o trabalho no lugar dele pois o seu
passaporte não havia sido liberado a tempo.
Adivinhe! Eustáquio continuava o
mesmo!!
Quanta energia se perde devido não a um erro humano mas a um humano errado. Quantos Eustáquios continuam rindo da nossa
cara, quando seu salário está garantido no fim do mês às custas dos impostos de
quem trabalha duro, enquanto ele tranquilamente continua em total impunidade
por sua irresponsabilidade. Permitir a
presença de Eustáquios em qualquer organização e dar um tapa na cara de quem
procura trabalhar direito.
Li uma frase que coloquei no meu LinkedIn: “Quando o bom funcionário é
tratado igual ao ruim, o bom desanima e o ruim não melhora”.
Infelizmente, verdade. Será que um dia vai mudar?
ResponderExcluirNo serviço público o ruim é preservado e quem trabalha duro é penalizado. Muito triste.
ResponderExcluirCerta vez vi 2/3 (Não podia ser 100%) do setor administrativo de uma instituição de ensino entrar de greve e o tempo foi passando, ao ponto que a faixa com o indicativo de greve estava toda rasgada pelo vento.
ResponderExcluirVendo isso, um empresário me perguntou se haviam esquecido de retirar a faixa, aí eu respondi tranquilamente que não, a greve continuava, novamente ele perguntou como espanto, então como as coisas estão funcionando, eu respondi que sempre tinha 1 que fazia o serviço de 3.