GREVE INÚTIL
Em 1991 os salários estavam tão baixos que houve uma grande debandada de pessoal. Não havia como sobreviver com aquele nível salarial. O sindicato dos servidores em ciência e tecnologia, recém criado, fez algumas reuniões com a direção do CTA, sem resultado. Obviamente o CTA nada podia decidir pois o salário de seus servidores era uma decisão do governo federal.
O resultado foi a única greve que o CTA teve em toda a sua
história. Por pouco mais de um mês
(outubro inteiro) houve uma paralisação completa dos funcionários civis, que se
reuniam quase todos os dias em frente do CTA ou do INPE.
O tempo foi passando e nada acontecia.
Então comecei a perceber, o que hoje eu vejo como óbvio. Não fazia nenhuma diferença para a sociedade
local ou federal se estivéssemos parados ou trabalhando. Semelhantemente à famosa frase sarcástica sobre um
mal funcionário: não falte ao serviço
pois seu chefe pode concluir que sua falta não faz falta. Estávamos concluindo a mesma coisa. Tínhamos a impressão de que o que fazíamos só
tinha importância para nós mesmos e ninguém mais.
O término da greve, para mim, foi deprimente. Voltamos ao trabalho como se o tempo não
tivesse passado e a greve não tivesse acontecido. Era como se não houvesse nenhuma esperança de
dias melhores. A única força que
possuíamos – nossa força de trabalho – foi tida como inútil.
A debandada de pessoal qualificado continuou. Ficaram os idealistas e aqueles que não conseguiram
colocação no mercado. Essa foi uma das
causas do atraso do lançamento do VLS (veículo lançador de satélites) – nosso
projeto principal. De minha parte,
procurei um segundo emprego, dando aulas à noite.
Curiosamente, até hoje as autoridades mencionam unicamente a falta de
verba como principal motivo para o fracasso do projeto VLS. Como já mencionei no post “Estratégia
Invertida” as autoridades ainda não aprenderam que ciência se faz com gente. Sem pessoal qualificado não adiante ter um
monte de dinheiro. Gente precisa de
meios para trabalhar e aí é que entra o dinheiro.
Além da saída do pessoal qualificado, quem ficou passou a não levar a
sério o que fazia e sim buscar a sobrevivência (tipo vendendo pastel em feira). Lembro-me de uma colocação do palestrante
Waldez Ludwig : “quando um jogador de futebol está ganhando pouco ele não faz
gol contra para se vingar do time, ele procura jogar ainda melhor para ser
contratado por outro time”. Infelizmente
muitos funcionários passaram a fazer gol contra, prejudicando grandemente o
trabalho de quem queria chegar ao seu objetivo – desenvolver a tecnologia
espacial.
O fato é que só teríamos relevância se fizéssemos algo relevante. Afinal, greve de inúteis é inútil.
Dr, como anda a Etec de sistemas inerciais, houveram maus avanços, em que etapa está o processo?
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