INVERSÃO DE PAPÉIS
Em 1992 consegui uma vaga como professor no curso noturno de engenharia de uma tradicional universidade em uma cidade vizinha. O salário era baixo mas eu estava precisando muito de uma renda extra. Além disso, sempre gostei de dar aulas e a matéria era uma que eu gostava muito de lecionar – sistemas lineares. Eu já havia lecionado essa matéria na Universidade Gama Filho em 1984.
Eu estava muito empolgado para começar.
No primeiro dia de aula, havia cerca de 60 alunos na sala. Entretanto, pela lista de chamadas, fiquei
sabendo que a turma tinha 110 alunos matriculados sendo que 40 deles eram
repetentes. Logo percebi o potencial de
encrenca que isso representava.
A lista de chamada ficava na entrada da porta para que os alunos
assinassem. Não faria sentido o
professor fazer a chamada de 110 nomes quando deveria estar dando aula. Algo me dizia que eu deveria prestar a
atenção nisso.
Ao final da aula eu resolvi fazer a chamada. Primeiro perguntei se alguém havia esquecido
de assinar. Depois chamei nominalmente
aqueles que haviam assinado e que, portanto, deveriam estar presentes. Para minha surpresa, havia 27 assinaturas
falsas. Fiquei indignado e disse: isso aqui é uma escola de engenharia e não
uma fábrica de estelionatários. Ninguém
deu um pio.
A partir daí, passei a fazer a chamada de forma aleatória e não houve
mais assinaturas falsas. Mas houve
grande inquietação da turma pois isso significava que haveria uma enorme
quantidade de reprovações por falta.
Por mais que eu me esforçasse em transmitir os conhecimentos (que eu
dominava e já tinha todo o curso preparado) a maioria tinha grande dificuldade
de entender. Em uma certa noite um aluno
indignado por não conseguir entender o que eu estava explicando, começou a
esbravejar. “Para que é que nós estamos
aprendendo isso ?” disse ele. “Está tudo
errado!! Nós é que deveríamos preparar o currículo acadêmico” completou.
Diante de tal atrevimento, respondi incontinente: “Claro que não. Como você poderia saber o que deveria saber
sem saber do que se trata ? Se já
soubesse então você não seria o aluno e sim o professor.” Ele se calou e a turma ficou em silêncio
diante de tal estultícia e eu continuei com a aula.
Engraçado que todas as vezes que ouvi alguém começar uma declaração com "está tudo errado", via de regra, a sequencia é uma idiotice. Esse foi só mais um exemplo.
Naquela época eu achava que o episódio seria pontual, fruto de alguém de
estava muito estressado com sua própria incapacidade. Mas o tempo mostrou que se tratava de uma
tendência. Era a ponta do iceberg que
emergia. A inversão de papéis de
nosso tempo já estava sendo construída na mente daquele jovem. Para ele, não era o professor que deveria
dizer para o aluno o que ele deveria aprender e sim o aluno deveria dizer ao
professor o que ele deveria ensinar.
Poderiam os filhos darem ordens aos seus pais, ou os empregados a seus
patrões? Poderiam os bandidos ensinarem
aos policiais como se comportar com justiça?
Isso seria impensável décadas atrás mas não hoje. Hoje, essa inversão está escancarada e motivo
de verdadeiros conflitos sociais e judiciais.
As consequência não tardam.
Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem
mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do
doce amargo! Isaías 5:20
Lembro bem de alguns episódios parecidos...
ResponderExcluirUma ocasião disseram que o Mestre não tinha didática, e então questionei, o que aquela criatura entendia por didática - sou filha de professores, e este tema é bem claro pra mim - e com a resposta da pessoa, concluí que a falta de didática, nada mais era do que, falta de capacidade de focar/concentrar.
Tudo o que nos trava, vem do medo - medo de ser incapaz, de não corresponder as expectativas, de não desempenhar bem na matéria, ou mesmo de se conformar com seus limites e não tentar ir além.
Daí vem a petulância, a falta de respeito, e a reação nada positiva.
Vivi isso na academia, vivo isso no dia a dia...
É de conhecimento geral que o ensino fundamental e médio brasileiro é de qualidade pelo menos duvidosa. Não é difícil encontrar alunos na quinta série que não sabem ler e fazer operações matemáticas básicas.
ResponderExcluirUm aluno(a) dessa qualidade está irremediavelmente perdido e vai viver o resto da vida tendo que ser carregado pelo estado, pois não têm as mínimas condições de ser usado no processo de produção de mercadorias de uma maneira que, efetivamente, colabore com o aumento de produtividade.
Por isso podemos ter o 11o pib mundial, mas somos o 67o, se não me engano, em produtividade. Isso significa que são precisos 4 ou 5 brasileiros para produzir o que 1 americano ou alemão produz.
O emprego que esse aluno vai arrumar, se arrumar, são aqueles que não exigem muito conhecimento formal. E esses empregos pagam pouco.
O aluno interessado pode fazer cursos extra-curriculares que, para serem concluídos e, em geral, tendo o aluno mais idade - leia-se juízo! - ajudam a sanar falhas graves do conhecinento formal que deveriam ter sido sanadas no passado.
Esses cursos podem ajudar significativamente no salário. Ele, agora, se compara com outros e já se acha o "rei da cocada preta".
Esses são os perigosos qdo, devido a disponibilidade de grana, mas não tendo muito tempo, uma vez que são explorados e podem ser chamados a qualquer instante pela empresa. Em geral, trabalham na manutenção de máquinas de processos produtivos que, se pararem, causam prejuízos milionários.
Esses não tem muita paciência para o trabalho científico realizado num curso superior. Eles querem fazer engenharia. Fizeram um curso extra-curricular e se acham preparados para um curso superior. Estai cheios de falhas básicas. Não compreendem o que é um curso superior e a soberba faz com que eles se arvorem a dizer como deve ser. Chegam a se rebelar! Podem inclusive partir oara as vias de fato! Como já foi presenciado por esse professor.
Muitos não têm paciência, mas suportam porquê há um diploma dependurado na linha do anzol. Menos mal! O diploma vai aumentar o seu salário. Aliás, cada ano na faculdade aumenta o salário em 15%.
Esse sujeito vai causar problemas. Ele subiu no banquinho e já se acha! Não sabe o que é um curso superior. Pissi explicar o que é, mas isso e conversa para outra hora, se o Prof. Waldemar permitir..