QUESTÃO DE AUTORIDADE

 O ano letivo do curso de Análise de Sistemas Lineares terminou com uma alta taxa de reprovação.  Na verdade, o percentual de reprovação dos que fizeram as provas foi em torno de 40% o que não é nenhum absurdo.  Entretanto, como eu havia passado a fazer a chamada, um enorme número de alunos foi reprovado por falta (abandonaram o curso ou que nunca o assistiram).  Assim, o total de reprovação chegou a 70%.

Em Janeiro de 1993 eu estava aguardando a atribuição das aulas do novo ano letivo quando recebi uma ligação do departamento me pedindo que fosse até lá conversar com o coordenador.  A chegar na escola, o coordenador me informou que os alunos reprovados haviam feito um abaixo assinada para a reitoria dizendo que não se matriculariam na matéria de Sistemas Lineares se eu fosse o professor.  Disse, então, que eu poderia escolher outra matéria para ministrar.

Tentei argumentar com o coordenador que o problema não era o nível de reprovação e sim a turma em si.  Expliquei que mais da metade das reprovações eram por falta e não por nota (o que ele deveria saber).  Também lembrei que na outra matéria que eu ministrava (introdução à eletrônica) não havia tido nenhum problema. 

Ele escutou tudo com muita educação e depois disse que a ordem de me retirar daquela cadeira havia vindo da vice-reitoria mas que eu poderia escolher qualquer outra matéria para ministrar pois a escola desejava que eu continuasse como professor.

Então eu lhe disse que estava me demitindo naquele momento e acrescentei: “se os alunos tiverem certeza de que podem tirar um professor a hora que quiserem, nunca mais terei autoridade em sala de aula”.  A resposta do coordenador me surpreendeu: “Sua atitude eleva ainda mais seu conceito comigo”. 

Tal colocação não me deixou lisonjeado, mas com a certeza de ter tomado a decisão acertada.  Ele sabia que eu estava com a razão, mas não podia fazer nada à respeito pois a ordem vinha de cima.  Havia, de fato, um interesse maior em agradar os alunos (devido ao retorno financeiro) do que garantir o respeito aos professores e à boa qualidade de ensino.  Era como se ele estivesse dizendo – melhor você ir embora mesmo, essa universidade não lhe merece.

Interessante que eu sabia o salário que eu recebia lá (embora pequeno) me faria muita falta.  Entretanto não pensei 2 vezes em dizer que não aceitava que minha autoridade como professor fosse trocada por dinheiro algum.

No ano seguinte, fui convidado para dar aulas na Universidade Braz Cubas em Mogi das Cruzes com salário mais do que o dobro do que aquele que eu recebia na universidade anterior (que nem merece que eu cite seu nome).

Então, se dirá: Na verdade, há recompensa para o justo;  Salmos 58:11

Comentários

  1. O mais importante é encontrar o lugar ideal, da mesma forma que um professor qualificado está em uma sala de pessoas só preocupadas em conseguir um diploma, existe um professor preocupado apenas em receber dinheiro "enrolando" em uma turma de alunos aplicados.
    O segundo caso é algo ainda pior e vejo acontecer muito.

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