FUSÍVEL QUEIMADO
No início de 1992 chegou à chefia do CTA o Brigadeiro Adyr da Silva. Durante sua curta passagem, ficou conhecido como furacão Adyr, devido ao seu jeito de agir. Adyr veio com uma firme determinação pessoal de fazer o projeto VLS andar.
O projeto VLS se arrastava por vários motivos: devido aos baixíssimos salários, um enorme
contingente de técnicos havia deixado o IAE; a progressiva mudança de legislação e a falta de recursos
financeiros. O que ninguém queria
admitir é que também a gestão do projeto esbarrava com dificuldades no trato de
pessoal e burocracia interna.
Assim que chegou, Adyr montou uma “sala de guerra” dentro do IAE onde
ele estava presente quase que diariamente para discutir as dificuldades e
encaminhar soluções aos problemas relativos ao VLS. Nessas primeiras reuniões foi-lhe dito que o
sistema de controle estava com problemas devido ao esvaziamento da equipe e a
não existência de uma plataforma inercial.
No dia 17 de fevereiro de 1992 fui chamado para essa reunião que
acontecia já nas primeiras horas do expediente.
A sala estava repleta de oficiais de alta patente e de civis em cargos
de chefia. O Brig. Adyr sentado na
cabeceira de uma longa mesa e eu, de pé, na outra ponta. Fiz um breve relato dos problemas e
necessidades para o projeto do sistema de controle do VLS.
Adyr então, de forma bem tranquila, me fez uma pergunta inesperada: “o que
você poderia fazer para trazer de volta as pessoas que saíram do IAE”. Eu fui curto e seco: nada - respondi. Adyr então retrucou: “como assim nada ?” Respondi de improviso e com bastante
tranquilidade: “Brigadeiro as pessoas que saíram daqui estavam magoadas com a
situação em que nos encontramos, o que eu diria para elas voltarem ? O que mudou para que elas desejassem voltar ?
“
Adyr começou a levantar a voz e disse: “lindo discurso! Até parece um
sindicalista. Tudo mudou mas não cabe a
você discutir isso. Seu trabalho é fazer
cálculos, programas de computador, ensaios...”
Acho que eu estava realmente ungido naquele dia. Permaneci de pé e com toda calma
perguntei: “Brigadeiro sabe o que eu
responderia se o senhor me pedisse pra fazer isso?” Não, respondeu ele. Eu já fiz tudo isso e não adiantou nada –
concluí.
Adyr ficou bastante alterado e disse que era como um fusível queimado
e que só restava eu ser transferido. Não
respondi nada e fiquei aguardando que ele me dispensasse, o que aconteceu logo
em seguida.
Na semana seguinte ele me chamou em sua sala e me disse que estava
criando um grupo de trabalho de sistema de controle onde eu seria o chefe com
plenos poderes para tirar pessoas de onde eu quisesse e montasse um time para
fazer o VLS. Foi assim que montei o
grupo que fez o projeto do VLS.
Percebi então o que havia acontecido.
Eu havia sido testado e aprovado !
Ele só trazia para perto de si as pessoas em quem confiava. Em outubro de 1992, recebi ordens diretas de
Adyr para ir na Russia preparar o anexo técnico do contrato de produção das
plataformas inerciais que voaram no VLS.
Quando retornei em dezembro daquele mesmo ano, ele já não era mais o
diretor do CTA. Acho que ele havia
incomodado tanta gente que foi transferido. Conversando com meu chefe (que tinha sérias
críticas ao modo de agir de Adyr) eu falei: “o maior mérito do “furacão” foi
nos mostrar que não fazíamos as coisas acontecer porque não queríamos”.
Claro que não faltou que afirmasse que ele era corrupto. Naquela época, quando se queria destruir a
reputação de alguém era chamado de viado, corrupto ou corno. Atualmente os rótulos da moda são: homofóbico,
facista e negacionista...
Sei que muita gente vai discordar têm suas razões, mas para mim sem ele não teria
conseguido fazer o projeto do sistema de controle do VLS. Obrigado Brigadeiro Adyr.
Sensacional Dr. Waldemar e me junto ao senhor dizendo obrigado Brig. Aldyr. Quiçá tivéssemos mais gente como o senhor no PEB, certamente não estaríamos hoje nesta situação. Alguém já cantava no final dos anos 60 o refrão: 'Vem vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe, faz a hora, não espera acontecer'. Em resumo, pelo visto não aprendemos nada e perdemos o bonde da história.
ResponderExcluirDuda Falcão
Em algumas situações, é preciso agir como um furacão, pra que as coisas saiam da inércia, mas normalmente só se nota a bagunça que as coisas estão, depois q o evento passa....
ResponderExcluirAté mesmo para os furacões, o preço q se paga é alto, quase sempre relacionado com reputação.
As situações continuam as mesmas desde o início dos tempos, seja na iniciativa privada ou pública - só mudam as personagens...
O importante de agir com sinceridade, é que a aprovação ou reprovação será justa.
ResponderExcluirCoisas incríveis acontecem quando um técnico competente tem liberdade para tomar decisões.