PASSANDO VERGONHA

Em janeiro de 1991, eu junto com mais 2 colegas fomos fazer um curso de 1 mês na ENSTA (ecole nationale superieure des techniques avancees) que fica num subúrbio de Paris. 

Como se tratava de uma missão ao exterior, foi planejada com muita antecedência.  Começava com o preenchimento de um PLAMENS (plano de missões de ensino no Brasil e Exterior) 2 anos antes da realização da missão.  Os preparativos para sua execução começaram quase 1 ano antes, com o contato com a escola, compra de passagens e obtenção de portaria de autorização para deixar o país.

Finalmente chegou o tempo do tão esperado curso – que foi muito bom diga-se de passagem.  Havia cerca de 30 profissionais assistindo ao curso, a maioria franceses.

Enfrentamos diversas dificuldades, mas conseguimos um hotel com quarto para 3 pessoas (para ser mais barato).  Durante o curso estourou a Guerra do Golfo e havia uma tensão enorme de ataque terrorista em Paris.  Ainda assim, nada atrapalhou nossa frequência e atenção no curso.

Havia no planejamento do curso uma visita ao LRBA (Laboratoire de Recherches Balistiques et Aérodynamiques) que ficava fora de Paris e necessitava de transporte até lá.  Então, não vimos nosso nome na lista das pessoas que estariam no ônibus.  Em um primeiro momento, pensamos que seria pelo fato de sermos estrangeiros e, certamente, aquele era um lugar de projetos confidenciais.  Entretanto, como se tratava de uma visita acadêmica, via de regra, se apresentava antecipadamente uma papelada solicitando autorização de entrada.

Procuramos a coordenadora do curso para reclamarmos do porque não estávamos inclusos na visita, afinal tínhamos feito nossas inscrições com muita antecedência.

A coordenadora ficou um tanto sem graça para nos dizer que, na verdade, estávamos fazendo o curso por cortesia pois até aquele momento o curso não havia sido pago !!!!  Era um daqueles momentos que você tem vontade de entrar dentro do sapato de tamanha vergonha.  Era como se ela nos dissesse: calem a boca pois vocês nem deveriam estar aqui, quanto mais reclamar de uma viagem de visita.  Terminamos o curso e não víamos a hora de sumir de lá.  Nem lembro se o curso foi pago – acho que sim.

Entretanto, a vergonha do momento se transformou em fúria.  Fizemos todo o processo burocrático dentro do figurino e mesmo assim tivemos o dissabor de ver que isso não garante o sucesso das coisas. A descrença nos processos administrativos é justa.

Sempre pode haver um Eustáquio (vide post Errar é Humano) para invalidar todo o sacrifício de levar as coisas com seriedade.  O pior desse tipo de situação é o descaramento ou cinismo das resposta dos setores responsáveis (ou irresponsáveis) quando questionados do porquê não fizeram sua obrigação.

Esse tipo de situação certamente continua acontecendo, mesmo com toda a informatização dos processos.   Enquanto não nos posicionarmos com firmeza contra a incompetência e desleixo desse tipo de funcionário continuaremos passando vergonha.

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