A.R. – A Chegada

Após a visita da equipe russa, recebi uma lista de informações sobre o projeto do sistema de controle do VLS que deveria ser enviada para eles para um trabalho de consultoria chamado de CDR – critical design review.  A conclusão do trabalho seria recebida em Moscou alguns meses depois.

Em 11 de setembro de 1992 acompanhei a comitiva que foi a Moscou receber a conclusão do CDR bem como negociar o fornecimento de alguns equipamentos.  A viagem foi cheia de expectativas e fortes emoções.

A primeira etapa da viagem foi um voo de São Paulo – Frankfurt.  Na época, Frankfurt era um dos principais aeroportos da OTAN.  Ao aterrissarmos dava pra ver enfileirados um grande número de aeronaves militares.  Dentro do aeroporto havia muitos grupos de soldados fardados chegando e outros partindo.  Parecia literalmente uma operação de preparação para combate.  Isso criava um clima estranho.  Fazia menos de um ano do fim da união soviética e havia notícias de grande inquietação na Rússia por conta disso.

A chegada ao aeroporto de Moscou (Sheremetievo) foi inesquecível.  Me senti em um filme de James Bond.  Já era noite e o aeroporto era pouco iluminado.  Somando a isso, ao teto era revestido de peças redondas (semelhante a uma lata de doces) de cor de cobre que dava um aspecto muito lúgubre.

Formou-se uma fila gigante para verificação dos passaportes.  Cada pessoa demorava muito tempo olhando para os jovens responsáveis pela fiscalização.  Demorei a perceber o que estava acontecendo, pois eles não faziam nada após algumas perguntas básicas.  Simplesmente ficavam olhando na sua cara.  Somente na segunda viagem pra Rússia é que entendi que havia diversos espelhos que permitiam o fiscal pudesse vê-lo por inteiro, até mesmo por trás.  Além disso, o tempo de demora era porque seu passaporte era colocado em baixo de uma câmera e era analisado em algum outro setor do aeroporto.  Quando acendia uma luzinha verde (bem escondida) o fiscal carimbava e passaporte e você era liberado.

Quando chegou minha vez, o jovem fiscal olhando para meu passaporte e exclamou alegremente:  Brasil !  Pelé !!  Dei um sorriso sem graça e confirmei.  Somente depois de várias viagens e tendo feito amizade com professores do MAI (Moscow Aviation Institute) é que fui saber que eles adoram o Brasil, principalmente devido às novelas (a cidade parava na hora de A Escrava Isaura)  e devido a um livro muito apreciado, ambientado no Brasil, chamado Bom dia eu sou a sua Tia.

Fomos direto para o hotel Ukraina. O prédio era magnífico (uma das 7 irmãs de Stalin) e já de longe causava um grande impacto visual.  Ao chegar na entrada, entretanto, o impacto foi outro.  Havia muitos móveis empilhados na entrada em forma de barricada com civis armados com armas de grosso calibre tomando conta das portas.   A impressão que dava é que esperavam um ataque a qualquer momento.  Imaginem o clima.

Depois de um dia e meio de viagem eu só queria tomar um banho.  Subi para o meu quarto e fui direto para o chuveiro.  Enquanto estava no banho comecei a escutar estampidos que pareciam tiros de canhão.  Depois de terceiro ou quarto estampido, cheguei à conclusão que eram, de fato, tiros de canhão.   Sai apressado do chuveiro sem me enxugar e vesti minha roupa saindo rapidamente do quarto rumo ao elevador.  Precisava saber o que estava acontecendo.  Parecia que havia estourado alguma revolução.  Pensei comigo - tinha que acontecer logo no dia em que estou aqui.

No hall dos elevadores não havia ninguém.  No saguão de entrada as pessoas circulavam despreocupadamente.  Voltei para meu quarto com cara de tacho depois de saber que estava havendo uma data comemorativa no Kremlin e eram apenas tiros de festim.  Que chegada !! Que venha o dia seguinte.

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