A.R. Segundo Mundo
Desde criança eu ouvia dizer que o Brasil era um país de terceiro mundo. Essa expressão, para mim, não designava nenhuma orientação ideológica e sim que se tratava de um país pobre e atrasado. Todos os países de terceiro mundo teriam essas mesmas características.
Também ouvia falar dos países de primeiro mundo. Que seriam os países ricos e prósperos. Mas não me passava pela cabeça saber quem
seria o segundo mundo. Ou mesmo se
haveria um quarto mundo (que talvez fosse o dos países miseráveis).
Somente muito mais tarde é que fiquei sabendo que o segundo mundo seria
o dos países comunistas que, segundo se supunha, não seriam ricos mas teriam um
padrão de vida médio melhor que os do terceiro mundo.
Assim, em 1992 eu pude constatar in
loco como era a capital do segundo mundo, Moscou. O que vi me deixou chocado. A cidade era linda mas a vida do povo
não.
A primeira coisa que me deixou inquieto é que o mesmo papel amarelado
que usávamos como rascunho em nossas discussões nas empresas, era usado para
imprimir os contratos. Até aí tudo
bem. O problema apareceu quando percebi
que cortavam o mesmo papel em 4 e usavam como guardanapo na hora do
almoço. Pior ainda é que era também usado
como papel higiênico.
No hotel internacional onde eu fiquei o papel higiênico se assemelhava
àquela tolhas de papel reciclado para enxugar as mãos. Impossível de ser utilizado como papel
higiênico. Para que ninguém duvide
disso, guardei um rolo comigo. Se alguém
quiser fazer um test-drive fique à
vontade.
Em função do que aprendi já na primeira viagem, a partir daí, na minha
mala era obrigatório: papel higiênico, pasta de dente, banana passa e requeijão
(pelo menos tinha pão lá). Qualquer alimento
decente que eu comprasse era importado e caro.
Nas ruas havia fila pra tudo. Em
qualquer loja se via pelo menos 3 filas: uma para escolher a compra, outra para
pagar a compra e outra para pegar a compra.
Outra situação que chamava a atenção era que se você parasse em alguma
loja que não tivesse fila e perguntasse alguma coisa (mesmo que fosse que horas
eram) começava a juntar pessoas atrás de você para saber se ali havia algo
interessante. A carência de tudo fazia
com que os cidadãos andassem sempre um uma bolsa dobrada que gentilmente
chamava just in case. Vai que aparecesse alguma oportunidade de
adquirir algo.
Não vou entrar em mais detalhes neste post, para não ficar longo. Aos poucos, outras coisas estranhas serão
descritas. Mas, não é à toa que a
terminologia terceiro mundo desapareceu.
Porque o que o segundo mundo não existia. Na verdade, fiquei muito contente em saber
que nosso terceiro mundo não estava tão ruim assim. Era bem melhor que o segundo.
Talvez, na época, devesse ter uma nomenclatura ímpar para o mundo, onde
haveria o primeiro, o terceiro e depois o quinto. A semelhança à expressão quinto dos infernos
seria bem adequada.
Eu já tinha ouvido a expressão: o comunismo é um sucesso de marketing. Visitando a Rússia pude perceber a verdade
dessa expressão. A realidade objetiva é
totalmente diferente.
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