O “J”ênio

Em uma terra nada distante, Inácio tinha uma vida difícil.  Devido a um defeito congênito, tinha um braço troncho não funcional.  Um certo dia, estava procurando garrafas em um lixão quando encontrou um objeto estranho.  Parecia uma garrafa mas, ao mesmo tempo, se assemelhava a um jarro.  Podia ver nele uma inscrição feita em letras manuais de estilo muito antigo mas que conseguiu identificar: Não abra! 

A curiosidade aliada ao fato de querer avaliar se a tal garrafa teria algum valor, ela a abriu.  Dela saiu um gênio!!  O gênio saiu um tanto assustado e sonolento.  Na verdade, tinha cara de retardado.  Fitou atentamente Inácio e disse: ora já que você me libertou, vou lhe conceder um desejo.

Inácio lembrou-se das histórias de gênios em garrafas e que costumavam realizar 3 desejos.  Não reclamou tratar-se de um único desejo, afinal era seu dia de sorte.  Disse, então para o gênio: quero ficar com meus dois braços iguais.

Zumm! Imediatamente ficou com os dois braços tronchos e não funcionais.

Tarde demais, Inácio percebeu que o tal gênio era mesmo retardado.  Devia ser um “j”ênio.  Não era à toa que lhe concedeu um desejo apenas, pois o segundo certamente seria mandá-lo de volta pra garrafa.

Essa fábula é uma versão minha adaptada de uma historinha que me foi contada por um ex-diretor do IAE, o Coronel Epifânio (nome fictício).  Ele estava explicando para uma pequena audiência como analisava os problemas da instituição que advinham da fusão dos antigos IPD com IAE (vide posts assertividade e denúncia).  A ação da fusão, foi justificada com o objetivo de fortalecer o IAE e o programa espacial.  Entretanto, à semelhança da boa ação do Jênio, em vez de resolver os problemas, os aumentou.

Esse posicionamento de Epifânio acabou por prejudicar sua carreira e deixamos de ter um excelente oficial general.  Em tempo, tenho grande apreço por Epifânio.  Só não coloquei seu nome verdadeiro pois não pedi sua autorização para isso.

Ao longo da minha carreira, presenciei diversas decisões desastradas como essa. Mas não se iludam, via de regra, não são fruto de simples incompetência.  Como disse um amigo certa vez:  é burrice demais pra ser só burrice.  Ou são desculpa esfarrapada (cortina de fumaça) de alguma esperteza ou realizam uma agenda oculta.  Ou seja, os verdadeiros motivos da ação não são aqueles declarados, mas outros dissimulados.  Os objetivos que se buscam ao tomar alguma decisão se misturam com outros interesses e, frequentemente, esses interesses se sobrepõem aos objetivos.

Não importa quais sejam exatamente, o resultado final é semelhante ao obtido por Inácio – a incapacitação, a paralisia.

Precisamos dar um jeito de colocar o Jênio de volta na garrafa, caso contrário ele continuará a realizar desejos inconfessáveis e com resultados imprevisíveis.

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