HIPERTENSOS
A partir de 1990 o IAE passou a se concentrar no VLS (antes havia o Sonda IV). Havia um cronograma de atividades que precisariam ser integralmente cumpridas para que houvesse o lançamento.
Nesses momentos
começam a se destacar aqueles que realmente querem ver as coisas acontecerem
daqueles embromadores que querem protelar ad
infinitum qualquer atividade. Os
motivos são diversos: não querem responsabilidade, não querem correr o risco de
errar ou simplesmente não querem que percebam sua incompetência.
Naquela época, a
subdivisão que eu chefiava tinha como uma de suas responsabilidades o software
do computador de bordo. Posteriormente,
com a reestruturação do instituto, o software passou a ser uma subdivisão da
divisão de eletrônica. Foi nesse grupo,
que chegou a ser enorme, que percebi alguns dos personagens acima descritos. É claro que haviam muitos mais. Entretanto, relato sobre aqueles que tive
contato direto.
Um deles não
apresentava resultados (na verdade nem cumpria o expediente corretamente) e
quando cobrada apareceu com um atestado médico que dizia que estava com diarreia
por estar sob pressão. Fiquei pensado se
seria pressão arterial e a diarreia mental.
Ela pediu transferência para o ITA mas o diretor (o mesmo do post Porrada)
não permitiu. Afinal havia passado em um
concurso para aquela vaga e lá deveria ficar.
Resultado, pediu demissão para não ser cobrada de suas obrigações
Um outro caso
semelhante não apresentou nenhum atestado médico. Entretanto, por ser militar, conseguiu uma
vaga em outra instituição e se mandou. Passado
algum tempo eu o encontrei no almoço e perguntei o que havia acontecido. Novamente ouvi o mesmo argumento: “não sei
trabalhar sob pressão”, disse ele. Nesse
momento eu fui sarcástico: “nossa, não sabia que você tinha pressão alta!”. Ele deu um sorriso sem graça e se afastou.
Como já não
bastasse o argumento ridículo e recorrente, estava sendo usado por um militar
que, em tese, deveria ser preparado para agir sob pressão. Não passava de uma desculpa esfarrapada.
Trabalhar sob
pressão são aqueles que têm meta para bater, caso contrário serão
demitidos. Trabalhar sob pressão é
trabalhar no corpo de bombeiros apagando incêndios onde vidas são ceifadas,
inclusive a dos próprios bombeiros. Ou
nos Serviços de Emergência, que atende acidentados nas condições mais
imprevisíveis e situações terríveis. Sem
falar da polícia, que enfrenta criminosos mais bem armados que eles e dispostos
a matá-los.
Como pessoas que
sentam em suas salas confortáveis e bem mobiliadas, com seus salários
garantidos no fim do mês, que recebem tarefas dentro de suas especialidades e
em prazos normalmente negociados com elas mesmos, têm o descaramento de dizerem
que não conseguem trabalhar porque estão sob pressão?
Como havia um
objetivo bem definido – lançar o VLS – e era levado a sério, muitos desses
“hipertensos” foram afastados ou transferidos. Entretanto, com o passar do tempo, como qualquer
doença, foi se alastrando.
Antes que alguém
pense que não há como resolver isso, eu digo que existe solução sim e eu a
propus para vários diretores.
Infelizmente, ninguém teve coragem de implementar.
Nosso salário é
composto de várias partes. Uma delas é
uma gratificação por atividades técnicas / administrativas (cujo valor é
considerável). Ou seja, você recebe uma
gratificação por fazer sua obrigação.
Também existe a
figura jurídica de colocar um funcionário em disponibilidade. Enquanto estiver nessa condição ele perde o
direito a essa gratificação. Eureca, aí
está uma possível solução (ainda que paliativa). Colocar os “hipertensos”
e todo tipo de vagabundo em disponibilidade.
Garanto que a perda salarial seria uma “vacina” mais eficaz do que as do COVID_19.
Os hipertensos conseguiam sinecuras no próprio IAE ou em outro instituto, o que era grave institucionalmente.
ResponderExcluirAí temos uma solução que na verdade é outro problema, usar bolsistas para executar as tarefas que precisam de disposição.
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