DETRAN

Em 1989 fui prestar consultoria em uma empresa de São Paulo chamada ESCA.  Para entrar no prédio, tive que mostrar documentos e nesse processo perdi minha carteira de motorista, que era do Rio de Janeiro.

Naquela época, minha mãe, que morava no Rio, tinha uma vizinha que trabalhava no DETRAN.  Pedi que minha mãe perguntasse a ela qual seria o procedimento pra tirar uma segunda via da CNH.  A resposta foi: me manda R$300 (valor atualizado) que eu lhe mando a CNH pelo correio.

Achei aquilo incorreto.  O DETRAN do Rio sempre teve a fama de ser um antro de corrupção e não seria eu que iria alimentar aquela máquina de safadeza.  Decidi então, fazer o processo por conta própria.

Eu ia mensalmente no Rio visitar minha mãe, que estava doente.  Então, antecipei um dia útil para ir no DETRAN resolver a situação.  Perdi toda uma tarde em várias filas e preenchimento de formulários até que, finalmente, fui chamado em um guichê onde me deram uma tirinha de papel com uma data.  Fiquei bem feliz por achar que tinha resolvido tudo.  Então, perguntei se aquela era a data de pegar minha carteira e se alguém podia pegar em meu lugar.  O atendente me olhou com uma cara estranha e disse: essa data é para você vir marcar o exame médico !!!   

Marcar o exame médico ??  Nem ao menos era para fazer o exame.  Mentalmente fiz as contas.  Eu teria que voltar àquele inferno de burocracia pelo menos 4 vezes até ter minha carteira em mãos.  Isso significaria meses à frente e, no mínimo, 4 dias de trabalho perdidos.

Saí de lá indignado e disposto a resolver isso de São José dos Campos.  Começava minha via crucis.  Quando retornei pra casa, procurei despachantes (ainda não havia o poupa tempo) que se recusaram a me atender, mesmo pagando.  Diziam que não trabalhavam com o DETRAN do Rio.  Fui então direto ao CIRETRAN de São José e dei entrada na documentação solicitando uma segunda via da CNH. 

15 dias depois, voltei para saber do andamento do processo e fiquei sabendo que o CIRETRAN havia enviado um FAX ao DETRAN_RJ pedindo a confirmação da existência da minha CNH e que a reposta foi que aquela CNH não existia.  Porém, o próprio atendente me disse que havia um erro naquela resposta.  O DETRAN_RJ havia respondido mencionando o número do meu CPF e não do CNH.  Evidentemente, que uma CNH com número do CPF não existia mesmo.  Então o CIRETRAN solicitou novamente a resposta a qual o DETRAN ignorou.

Depois de diversas idas lá e ficar quase 6 meses esperando a resposta que não vinha, decidi procurar o diretor do CIRETRAN de São José.  Expus a ele, detalhadamente, o que estava acontecendo.  Falei da minha recusa em pagar propina para conseguir a carteira e do meu empenho em fazer o processo correto.  Concluí:  vocês estão me provando que corrupção vale a pena !!!

Ele ficou em silêncio por alguns instantes e depois chamou um funcionário.  Quando o funcionário entrou ele deu uma ordem:  imprima a CNH dele agora!  Milagrosamente eu saí com a CNH na mão.

Esse episódio mostra mais um exemplo de como a burocracia irresponsável prejudica a vida do cidadão de bem.  Cidadão esse cujos impostos pagam o salário daqueles que o prejudicam.  Mas também mostra que pessoas sérias e honestas em cargos de chefia podem fazer muita diferença.

Aquele homem foi um anjo na minha vida.  Deu solução imediata a um problema que se arrastava e eu não sabia como resolver.  Tenho sempre procurado fazer o mesmo.  Sempre que surge a oportunidade, ser o anjo na vida de alguém.  

Comentários

  1. Cada situação... às vezes, por conta do desespero das pessoas, esses seres lucram...
    Fazer o bem sempre, aprendi isso desde pequena, e fico feliz em encontrar anjos pelo caminho. Obrigada Mestre por ser um na minha história!

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  2. Se um usuário fazer o correto em um ambiente errado é difícil, imagine a vida de uma pessoa correta dentro de um ambiente desse. No mínimo vai ser alvo de chacotas, ou de eventuais intimidações, se tornando conivente de forma passiva.

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