REGRAS
No início de 1994 comecei a ministrar aulas nos cursos noturnos de uma universidade em Mogi das Cruzes chamada Braz Cubas (vide post Questão de Autoridade). Os 8 anos que ministrei naquela instituição foram muito proveitosos em todos os sentidos. Fazia o que gostava (dava aulas), tive ótimo retorno financeiro, muitas experiências edificantes e fiz muitos amigos entre os alunos. Infelizmente, esse esforço extra acabou com minha saúde.
Logo no primeiro ano, tivemos
uma reunião com o diretor da escola de engenharia. Ele apresentou as diretrizes e regras que
deveríamos cumprir. Uma delas, que
parecia ser muito simples, ele deu especial atenção – a presença dos
alunos. Os professores deveriam fazer a
chamada rigorosamente e jamais atribuir presença a um aluno ausente.
Evidentemente, é notório que a
presença acima de 75% é um item obrigatório para aprovação em qualquer
matéria. Entretanto, o motivo para a
solicitação do rigor na chamada não era nenhuma preocupação acadêmica e sim legal. O diretor, então, passou a dar alguns
exemplos do que já havia ocorrido.
Um aluno, dirigindo à noite,
voltando cansado do trabalho, bateu o carro.
O seguro recusou-se a pagar-lhe a apólice, alegando que não era o motorista
registrado pois o mesmo encontra-se presente na faculdade assistindo aula. Na verdade, alguém havia atribuído presença a
ele, achando que o estava ajudando.
Em um outro caso, mais grave,
um determinado aluno foi acusado de estar praticando assalto no metrô, sendo
reconhecido pelas câmeras de segurança.
Ele alegou que seria alguém parecido com ele pois, naquele momento, ele
estava assistindo aula na faculdade. Era
mentira, ele não estava. Porém a
presença indevida deu-lhe um álibi para escapar da lei.
Esses exemplos me deram uma perspectiva
diferente e mais abrangente sobre regras a cumprir. Isso porque, em nossa cultura, parece que
somos avessos a regras. Talvez porque
achemos que são inúteis ou equivocadas ou mesmo porque queremos ser anarquista
e sermos nossa própria lei.
Durante minha vida
profissional me deparei com diversos casos em que as regras não foram seguidas
e as consequências desastrosas. Mesmo
quando não as entendemos, as regras existem por algum motivo.
Vivemos sendo bombardeados com
a ideia de que devemos quebrar a regras.
Como se isso fosse prova de algum tipo de virtude ou inteligência. Se procurar na internet achará centenas de
frases apoiando quebrar as regras. Cheguei
a ler uma frase: “Seguir as regras
não levará você a lugar nenhum”. Imagino
que um piloto mudaria tal frase para: “seguir as regras o manterá vivo”.
Não estou falando que regras não
devam ser questionadas, pois muitas vezes perdem a validade ou são aplicadas
fora de contexto (vide post Lenda do Banco Pintado), como é o caso da
burocracia que tanto critico.
Entretanto, o que não é muito óbvio é que quando tudo está correndo bem
as regras parecem ser desnecessárias, levando à sensação de que podem ser
desrespeitadas. Você só percebe realmente sua utilidade / necessidade quando
algo dá errado. Só então é que você
entende do porquê ela foi criada – as vezes tarde demais.
Procure entender as regras antes de querer ignorá-las isso
lhe poupará muitos dissabores e talvez a própria vida.
No meu entender, dar presença a faltoso é uma dupla mentira, do aluno e do professor. No caso do professor, abre -se uma porta para outras contravenções, porque os alunos sempre vão argumentar: se pode isto, então também pode aquilo, dando margem à cola e mudanças de nota. A postura do professor deve ser exemplar, mesmo nestes tempos difíceis, sob risco de ameaças e agressões.
ResponderExcluirAcredito que é fundamental receber uma explicação junto de cada regra. Certa vez um parente foi ao cardiologista, o médico mandou cortar o sal e receitou um remédio, que ele tomou rigorosamente. Uma semana depois meu parente voltou ao consultório passando mal, para espanto do médico ele cortou o sal 100%, só depois disso o médico explicou que sempre passa o remédio, pois as pessoas não cortam de verdade o sal.
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