COLA – assédio emocional

A turma posterior àquela que mencionei no post anterior, era muito dada à cola.  Durante a primeira prova, haviam tantos alunos colando simultaneamente que era impossível fiscalizar e repreender a todos.

Na prova seguinte inventei uma estratégia.  Fiz 4 provas A, B, C e D.  Todas eram idênticas no enunciado e no diagrama de blocos, mas os números eram diferentes para cada uma delas.  Assim, qualquer um que copiasse o resultado do colega, seria exposto como cola.  No dia da prova, esperei que todos os alunos se sentassem e distribuí as provas de tal forma que ninguém teria ao seu lado ou atrás uma prova idêntica. 

Para relacionar a prova com a solução, a primeira coisa foi colocar a versão da prova junto com o nome do aluno.  Por incrível que pareça, muitos alunos não entenderam o que estava acontecendo.  Eu tive que explicar claramente.  Embora as perguntas fossem as mesmas, as respostas seriam diferentes, já que os números de cada prova eram díspares.  Mesmo assim, na hora da correção apareceram resultados de uma versão em outra (ou seja, cola).

Quando chegou na prova final (eram 3 ao todo) uma aluna me procurou, aos prantos, para reclamar que havia sido reprovada.  Ela era uma das que haviam escrito a solução da prova B sendo que a dela era prova A.  Eu poderia ter dado zero, como era a orientação da escola.  Mesmo assim eu corrigi o raciocínio dela que tirou abaixo do valor que a aprovaria.

Ela utilizou uma argumentação emotiva para reclamar:  “eu sei que você não gosta de mim!” – disse ela.  Você está completamente enganada, respondi eu.  Continuei: “Eu já aprovei muitos alunos com quem não simpatizo, assim como já reprovei outros com os quais tenho simpatia.  O critério de aprovação não é a minha simpatia é tirar uma média maior ou igual a 5 e você não tirou.  Além do mais, eu nem deveria ter corrigido sua prova pois está claro que você colou de um colega seu.”

Não era a primeira vez que eu sofria esse tipo de assédio emocional.  De certa feita, um aluno me procurou dizendo que eu estava destruindo a vida dele, pois ele já tinha um emprego garantido e não poderia assumi-lo pois eu o havia reprovado.  Embora, numa turma de 30 alunos somente 2 haviam sido reprovados (ele era um deles), ele se sentia injustiçado e a culpa era minha.  Não dele que não havia estudado.

Devido a essas minhas histórias, meu filho mais velho me deu uma camiseta com a cara de Homer Simpson com a inscrição:  “a culpa é minha e eu ponho ela em quem eu quiser”.  Sempre me impressiona a nossa capacidade de projetar nossas culpas nos outros.  Enquanto assim o fizermos não evoluímos como profissionais nem como indivíduos. 

Ao assumir a própria responsabilidade pelos erros, por outro lado, é possível superar os acontecimentos e evitar que os mesmos problemas voltem a acontecer no futuro. Perceber que você permitiu que determinado fator negativo acontecesse em sua vida e que você é o único responsável por essas experiências é sinal de maturidade emocional.

  

Comentários

  1. Muito bom! Mas infelizmente existem profissionais que sim, prejudicam os outros por pura falta de empatia. Você lembra da minha querida professora, né pai?!

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  2. Também tive alunos assim. Um deles, ativista da causa negra, não entregava os trabalhos, ia mal nas provas e acabou sendo reprovado. Nunca turma de 35 alunos, foi o único. Veio também contar da luta pela "causa", o tempo que não teve, etc, etc. Mas seria injusto com todos os outros que cumpriram com as tarefas e responsabilidades.



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  3. Uma das vantagens da exata é poder fazer provas diferentes de forma justa. Aí existem 2 tipos de professores, os que avisam antes da prova começar e os que avisam antes de entregar os resultados.

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