A.R. Missão Secreta - a estada

 Chegamos em Moscou na terça-feira à noite e, dessa vez, fomos para um hotel.  Foi muito providencial por vários motivos mas, naquele momento, estávamos destruídos e só queríamos descansar.  No dia seguinte, pela manhã, fomos direto para a Almaz ver a “encomenda” que deveríamos transportar para o Brasil.

Levei um susto enorme ao ver o que deveríamos transportar!!  Os equipamentos estavam embalados em enormes caixas de madeira entremeados de placas de papelão que juntos pesavam quase quinhentos quilos.  Na mesma hora me veio à mente “não tenho como pagar o embarque desse trambolho”.  Mostrei logo minha insatisfação, ao criticar aquelas embalagens.  Porque proteger os equipamentos com papelão e madeira ?  Não conheciam plástico e isopor ?  A desculpa é que eram embalagens próprias para equipamento militar.  Fiquei pensado se havia algum motivo secreto pois eu continuava achando um tremendo trambolho.

Voltamos para o hotel após o almoço, eu com a cabeça a mil.  Como iria proceder o embarque de quase 500 Kg de bagagem ?  O valor que eu trazia comigo pagaria pouco mais de 200 Kg.  Foi quando tive uma sacada.  Nosso bilhete nos dava o direito de embargar gratuitamente para o Brasil 30 Kg cada um.  Mas uma passagem de primeira classe dava direito a 80Kg.  Se mudássemos nossa passagem para primeira classe, já teríamos 160Kg gratuitos e eu ainda deveria dar um jeito de pagar o excesso.

Felizmente, era possível fazer ligação internacional do hotel (não havia celular na época) e eu liguei para o Coronel Ribeiro e expliquei a situação e minha sugestão do IAE mudar a passagem para primeira classe.  Foi aceito imediatamente.  Tínhamos um problema a menos.  Agora talvez tivesse chance de conseguir pagar o excesso de bagagem.

Não deu nem tempo de relaxar, o telefone do quarto tocou.  Eu nunca havia recebido um telefonema naquelas bandas.  Quem seria ?  A voz falou em português se identificando como o vice-consul brasileiro (que eu conhecia).  Disse que havia sido procurado por um repórter brasileiro, que estava em Moscou e que sabia da nossa chegada e queria conversar conosco !!!  Como assim ?  A missão não era secreta ?  Como um repórter brasileiro sabia da minha presença lá ?  A essas alturas não adiantava dizer que eu não era eu e não estava onde estava.  Falei que falaria com ele por telefone.  Não iria me encontrar com ele.

Passou uma meia hora e o hoje conhecido Willian Waack ligou para nosso quarto.  Perguntou se éramos os engenheiros do IAE e eu confirmei e disse que estávamos ali para cumprimento de um contrato.  Não dei nenhum detalhe sobre o que estávamos fazendo nem mesmo o nome da empresa.  A conversa foi estranhamente curta e eu só entendi o porquê 3 dias depois quando chegamos no Brasil.

A partir desse momento começou a bater um certo desespero.  Não havia mas nada de secreto ali.  Se até repórter brasileiro sabia de alguma coisa quem mais sabia ? e qual seria a reação ?  Estaríamos em perigo ?  Liguei para o escritório VARIG em Frankfurt e pedi para falar com o responsável maior.  Contei tudo a ele o que estava acontecendo e pedi ajuda para que ele nos fizesse chegar em segurança ao Brasil, juntamente com a carga.  Esse homem, um verdadeiro brasileiro, se mostrou totalmente solidário e garantiu: “se vocês conseguirem chegar aqui em Frankfurt em coloco vocês no Brasil”.  É importante lembrar que o voo de Moscou-Frankfurt era feito pela Lufhansa e a “bagagem” teria que trocar de aeronave.

Após idas e vindas na Lufthansa de Moscou e ligações para a VARIG de Frankfurt, finalmente, na sexta-feira, fomos para o aeroporto com a tão preciosa carga (tenho fotos desse momento memorável).  A primeira batalha era trazer a carga para check-in.  O pessoal que transportava bagagem se recusou a fazê-lo pois o peso excedia as normas.  Antes que eu pudesse me preocupar com a situação, o engenheiro da Almaz que nos acompanhava disse que cuidaria disso e deve ter molhado as mãos dos transportadores para que o peso passasse a fazer parte da regra.  

Após o controle de passaporte, que era feito antes do check-in, ficamos por nossa conta.  Estava na hora de iniciar o retorno.

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