A.R. Missão Secreta - a Ida

 A chegada da plataforma inercial para o VLS, que havia sido comprada da Almaz, foi cercada de sigilo e grandes emoções.  Para contar essa façanha vou dividir em 4 partes pois é muito extensa e cheia de nuances.

Na manhã de uma sexta-feira de junho de 1995, recebi um telefonema do diretor do IAE, o então Coronel Ribeiro, me avisando que acabara de chegar uma portaria secreta do Comando da Aeronáutica determinando meu embarque imediato para Moscou para buscar as primeiras plataformas inerciais que haviam ficado prontas.

Ficou decidido então que eu e o engenheiro Domingos embarcaríamos naquela mesma noite para Moscou e que eu deveria trazer os equipamentos como bagagem embarcada.  Isso gerava alguns problemas.  O primeiro deles é que, naquela época, o passaporte de serviço precisava ser renovado com um carimbo de autorização para cada nova viagem e não havia tempo para esse procedimento.  Decidiu-se então que eu iríamos com nossos passaportes pessoais.

O segundo problema é que, para aquele tipo de viagem internacional, cada quilo de bagagem extra (além dos 30Kg que cada passagem dava direito) custava 40 dólares.  Nós estávamos imaginando que o equipamento completo pesaria em torno de 200 Kg.  Recebi então 10mil dólares em espécie para pagar o custo extra do embarque.

Nós deveríamos embarcar naquela sexta-feira mesmo e retornar ao Brasil na sexta-feira seguinte.  Fomos para casa logo após o almoço para fazermos apressadamente as malas e estávamos no aeroporto de Guarulhos às 20:00 para o check-in.  Lembro-me de que tive o cuidado de deixar 5000 dólares (dos 10mil) com Domingos para não ter que declarar a saída do país com mais de 10mil dólares.

Ao fazer o check-in, a atendente me perguntou onde estava o visto de entrada na Rússia.  Achei estranho aquele pedido pois já havia estado na Rússia diversas vezes e nunca precisara de um visto.  Ela, então, me explicou que havia um acordo diplomático entre o Brasil e a Rússia para que passaportes de serviço não precisassem de visto.  Entretanto, embora em missão oficial, estávamos com passaportes pessoais.  Não poderíamos embarcar.  Liguei para o diretor e contei o que estava acontecendo.  Ele falou que deveríamos regressar para casa pois ele iria tomar as providências para agilizar a autorização do passaporte de serviço.

Assim, na segunda-feira de madrugada (não havia sequer iniciado o expediente da semana para solicitar uma viatura) peguei meu carro e fui para o Rio de Janeiro junto com o Domingos.  Chegamos por volta das 11:00 na Praça Mauá em um setor da Marinha que emitia passaportes.  Não iríamos emitir passaporte.  Já os tínhamos em mãos.  Precisávamos que nossos passaportes fossem renovados com um carimbo de autorização de saída do país.  Nos dirigimos ao guichê e fomos atendidos por um militar da Marinha que imediatamente nos disse que não poderíamos ser atendidos pois estavam preparando centenas de passaportes para a viagem de formatura dos guardas-marinha.

Novamente fui eu ligar para o diretor e contar mais esse óbice.  Ribeiro então me disse:  “Waldemar não saia daí! Vou ligar para Brasília e eles vão receber um telefonema.”  A má vontade daquele pessoal era escancarada.  Então, me encostei na parede e, enquanto esperava o tal telefonema, contei para o Domingos uma piada sobre um leão que se escondeu em um prédio de uma repartição pública e começou a comer um funcionário por semana e ninguém percebia a falta dos mesmos.  Até que ele comeu a pessoa que preparava o cafezinho e sentiram sua falta.  Assim ele foi descoberto.  Domingos se controlou para não rir alto pois ficou constrangido pelo local onde estava sendo contada a piada.  Se houvesse um desses leões escondido ali, ficaria bem gordo.

Quase uma hora depois da nossa chegada, escutei o telefone tocar lá dentro do guichê.  Daí a pouco o tal militar pôs a cara bem feia fora do guichê e bradou:  “quem é Waldemar aí ?”

Saímos de lá, com os passaportes renovados, por volta das 13:30 e pegamos a estrada de volta sem almoçar.  Chegamos em São José por volta de 18:00 e às 21:00 estávamos em Guarulhos embarcando para uma viagem de 17 horas.  Chegamos em Moscou num total bagaço e isso era só o começo.

Comentários

  1. Pelas minhas contas o leão só pode comer no máximo 75% da repartição, pois geralmente é formada por 3 pessoas que fazem 1/3 do seu serviço e uma que faz 3 vezes.

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