A.R. Missão Secreta - a volta

Depois de passar por 2 barreiras de controle dentro do aeroporto de Moscou (eram 5 ao todo), agora era a vez do check-in.  A questão ali era quanto eu teria que pagar pelo excesso de bagagem.  Que mágica eu iria fazer para que os 10mil USD fossem suficientes para pagar o excesso de bagagem embarcada ?  Tínhamos também algum dinheiro pessoal.  

Eu havia ficado sabendo uma informação importantíssima.  O custo da bagagem extra de 40USD / Kg valia de Frankfurt para São Paulo.  No trajeto Moscou / Frankfurt era 20USD / Kg.  Ou seja, o custo total do excesso de bagagem deveria ter um valor proporcional à distância percorrida para cada tarifa.  Isso faria uma boa diferença para menos.

Fui atendido no guichê por uma russa que falava um inglês razoável mas, pelo jeito, não sabia fazer conta.  Descontado o peso que a primeira classe dava direito ainda sobrava quase 400 Kg.  Se fosse pagar a tarifa cheia de 40USD / Kg nós não teríamos como pagar.  Na ponderação, entretanto, pelas minhas contas daria em torno de 12mil USD.  Ainda assim, não teríamos esse valor e eu estava imaginando como solicitar algum desconto.

Depois de algum tempo em que a atendente não conseguia fazer as contas necessárias, formou-se uma fila atrás de mim.  Ela, então, começou a ficar nervosa e levantou a voz comigo.  Tive que confrontá-la dizendo que ela estava sendo grosseira.  O clima foi ficando cada vez mais tenso e eu pensando: “a situação já é delicada e só me faltava essa - uma atendente que não sabe uma simples soma ponderada”.

Hoje penso ser a ação divina para dar um final feliz à situação.  Logo apareceu o gerente da Lufthansa.  Um alemão grandão chamado Müller.  Tanto eu quanto ela, tentamos explicar a situação, na maior tensão.  Ele ouviu com um semblante sério e tomou atitude imediata:  “Faça tudo por 20USD /Kg”.  Verdadeiro milagre!!!  Ficou tudo por 8mil dólares.  Deu para pagar tudo e ainda sobrou 2mil dólares.

Hoje quando lembro do episódio penso naquela piada em que o chefe diz para a secretária: marque uma reunião para sexta-feira.  A secretária pergunta:  sexta é com x ou com s ?  Marque para quinta, responde o chefe...

Na sequencia tirei um bolo de 80 notas de 100 dólares e coloquei em cima do balcão.  A atendente arregalou o olho.  Acho que ela nunca havia visto tanto dinheiro.  Finalmente, pegamos nosso boarding-pass e nos dirigimos para a portão de embarque.  O voo para Frankfurt ocorreu sem problemas.  A primeira etapa da missão estava resolvida, porém estávamos apreensivos.

A troca de avião em Frankfurt era motivo de preocupação pois aquele aeroporto, na época, era uma grande base da OTAN.  O que poderia acontecer ao se transportar secretamente uma bagagem não autorizada ?  As plataformas seriam apreendidas ?  Poderíamos ser presos ?  Poderíamos desaparecer ?

O avião da Lufthansa pousou em Frankfurt e taxiou até o gate.  Quando chegamos à porta do avião, havia 2 homens de jaleco vermelho bem em frente à porta com um cartaz com nossos nomes escritos nele.  A taquicardia só passou quando eles se identificaram serem funcionários da VARIG.  Eles nos conduziram a uma sala VIP e ficamos lá aguardando o embarque no avião da VARIG.  Estávamos sós naquele lugar que, se não fosse chic, lembraria uma cela.  

Finalmente, o responsável da VARIG, com quem eu havia conversado por telefone dias antes, apareceu.  Sem muito rodeio, ele deixou claro que só embarcaríamos depois que nossa bagagem estivesse segura à bordo.  Foram minutos intermináveis até o embarque no avião.

Já estávamos acomodados dentro do avião, quando recebemos a mensagem: sua bagagem está à bordo.  Restava tentar relaxar nas próximas 11 horas de voo até São Paulo.  Ainda bem que estávamos na primeira classe - foi a única vez que viajei assim em toda a minha vida.

Eu não tinha a mínima idéia como passaria na alfândega com uma bagagem secreta que pesava meia tonelada.  Mas isso seria o menor dos problemas.  A plataforma estaria em solo brasileiro.  Isso era o que importava. A missão estava quase no fim.

Comentários

  1. Que aventura! E a Varig: um orgulho da na nação.

    ResponderExcluir
  2. Tantas formas de transportar isso, parece mesmo um filme de espionagem, colocar um inocente para fazer o serviço de um oficial de alta patente.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

HOMEM DE CONFIANÇA

SABOTADOR

BARATO QUE SAI CARO