NOTEBOOK

 A partir de 1991, quando concluí o doutorado, eu estava apto a solicitar financiamento para projetos de pesquisa junto ao CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas) e à FAPESP (Fundação para Amparo à Pesquisas do estado de São Paulo).

Até a minha aposentadoria, consegui diversos financiamentos dessas agências.  Todos ligados diretamente aos objetivos institucionais.  Ou seja, todo o recurso financeiro e humano (bolsistas) eram empregados para a realização dos objetivos do IAE e ficavam na própria instituição.  Jamais propus algum projeto de interesse pessoal.  Isso deveria ser elogiável mas havia quem não gostasse.

Já no meu primeiro projeto aprovado pela FAPESP, comprei um notebook.  Era o primeiro equipamento desse tipo do instituto (na época era uma novidade).  Não demorou muito quando uma pessoa que havia trabalhado na minha equipe e havia sido transferida devido à sua improdutividade, procurou meu chefe com a acusação de que eu pretendia ficar com o notebook para mim.  

Meu chefe me chamou, disse da denúncia e me perguntou: “você está levando o notebook para sua casa?”  Eu respondi: “claro! é para isso que serve esse equipamento.  Ele permite que você possa trabalhar onde quer que esteja.”

Aproveitei a oportunidade para explicar que aquele equipamento não pertencia ao IAE e sim à FAPESP e estava aos meus cuidados.  Só quando o projeto terminasse o notebook teria sua propriedade transferida para o IAE (passaria a fazer parte da carga).  Portanto, eu não teria que dar nenhuma satisfação do que eu estava fazendo com ele.  Também afirmei o óbvio - não pretendia roubar o equipamento.

Não houve mais nenhum problema a esse respeito.  Entretanto, ao fim do projeto, meu chefe fez questão de verificar se o notebook havia, de fato, entrado em carga.  Ou seja, ele foi checar minha integridade.

Mal o projeto havia começado, eu havia sido denunciado por uma atitude que pretensamente eu iria tomar ao fim do projeto.  Baseado em que evidência ?  Será que a denunciante poderia ler mentes, para saber as minhas intenções ?

Qual teria sido o real motivo da denúncia ?  Preocupação com o bem público ?  Zelo pela honestidade ?  Desconfiança devido a algum comportamento prévio ?  Certamente que não.  A motivação ali era simples desejo de represália por ter sido confrontada com seu comportamento improdutivo.

Esse foi apenas um episódio, entre muitos, em que pessoas fizeram acusações levianas a meu respeito por motivos de vingança ou inveja.  Felizmente, nenhuma dessas acusações prosperou (por que eram falsas) nem impediu que eu continuasse a fazer o meu trabalho.  Sempre mantive a consciência e mãos limpas.

O mais triste e revoltante disso é que nenhum dos denunciantes tenham sido realmente punidos por isso (calúnia e difamação).  Diante desse ambiente, não foi fácil manter o moral elevado.  Muito me ajudou as palavras da Bíblia.

Entrega o teu caminho ao Senhor , confia nele, e o mais ele fará.
Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol ao meio-dia.
Salmos 37:5,6

Comentários

  1. Sabe aquele velho ditado "quem disso usa, disso cuida". Para uma pessoa dessas trabalhar em casa, deve ser algo totalmente inconcebível, já que nem ao menos fazia isso no próprio trabalho.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

HOMEM DE CONFIANÇA

SABOTADOR

BARATO QUE SAI CARO