DESERTOR

 O curso que fiz na França em 1991, além do problema de pagamento descrito na postagem PASSANDO VERGONHA, e de ter vivido o período da guerra no Iraque (vide post O SHAMPOO) o retorno ao Brasil me trouxe uma surpresa amarga.

O curso teve a duração de 6 semanas e começou (na França) antes que tivesse terminado o período de férias coletivas no IAE.  Assim, quando se aproximou a data de retorno eu liguei para a secretária da minha divisão informando que só compareceria ao trabalho na semana seguinte ao meu retorno por 2 motivos:  ainda tinha uma semana de férias e precisava de tempo para cuidar de assuntos particulares.  Afinal, estava fora de casa faria 40 dias.  Ela entendeu perfeitamente e disse que estava tudo certo (só que não).

Quando retornei ao instituto na data combinada, fiquei sabendo que havia sido aberto um processo disciplinar contra mim por não ter retornado ao pais conforme a portaria que havia me designado para o curso.  Era como se estivessem me considerando um desertor.

Procurei imediatamente o diretor do IAE para saber do que se tratava e, para piorar, fui informado de que o processo já havia saído do instituto e encaminhado para o CTA.  

Felizmente, minha conversa com o diretor foi muito positiva.  Eu levei meu passaporte comigo e mostrei o carimbo de entrada no país com a data de retorno.  Coincidia perfeitamente com a portaria.  Também falei do acerto que havia feito com a secretária e não entendia porque tudo aquilo estava acontecendo e rápido (em menos de uma semana havia sido despachado para fora da instituição).

O diretor deu um risada um tanto enigmática e disse que estava tudo explicado e que eu não precisava me preocupar.  Realmente o processo foi cancelado não sei porque meios ou argumentos.  Entretanto eu não ia deixar passar uma situação tão esdrúxula sem averiguar o quê, de fato, havia acontecido.  

A primeira pessoa com quem conversei foi a secretária e ela me informou que todo o processo havia sido feito pelo Estupídio (nome fictício).  Estupídio é o personagem da postagem LIDANDO COM A BUROCRACIA.  Engenheiro formado pelo ITA que nunca fez um projeto de engenharia, sempre foi burocrata.  Ele era, então, responsável pelo setor de recursos humanos, para onde meu passaporte deveria ser encaminhado logo após o meu retorno (naquela época isso era obrigatório).

Acontece que o caminho natural para isso é que eu me apresentaria à chefia da minha divisão (foi o que eu fiz) e, em seguida, a secretaria comunicaria formalmente meu retorno e encaminharia o passaporte para o setor responsável.  Como eu já havia combinado que chegaria ao IAE uma semana depois, a secretária nem se preocupou isso.

Mas não Estupídio.  No dia seguinte ao dia oficial, ele já iniciara o processo de que meu passaporte não havia sido entregue a ele.  Cabia a pergunta: com tantas pessoas que iam e vinha do exterior, porque ele havia marcado exatamente o dia oficial do meu retorno e ele nem esperou uma semana?  Bastaria um telefonema e tudo estaria resolvido.

Como eu não havia feito nada de errado nem ilegal, não havia motivo para não perguntar diretamente a ele.  Numa ligação muito rápida explicando o que acontecera, eu lhe perguntei: você tem algum problema pessoal comigo ?  Ele negou gaguejando dizendo que ele apenas seguido as regras.

Seguido as regras uma ova! Ele deveria ter sido repreendido pelo que fez (se é que não foi).  Além de um burocrata incompetente ainda era covarde.

Hoje, já passados 32 anos deste episódio lamentável, eu me pergunto: seria normal você passar por tantos problemas por apenas querer fazer o seu melhor na sua profissão ?  Problemas esses totalmente evitáveis e desnecessários produzidos pessoas que não contribuem com nada a não ser em criar problemas para quem tenta produzir.

O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis.

José de Alencar

Comentários

  1. Está parecendo a forma de operar do ladrão oportunista. TODO DIA passa por ali, procurando uma porta destrancada. Pois é, muito esforço é realizado no processo de perseguição.

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